quarta-feira, 3 de julho de 2013

IR ÀS RUAS



IR ÀS RUAS
Clerisvaldo B. Chagas, 3 de julho de 2013.
Crônica Nº 1046

A conversa surge por surgir, sem nenhum compromisso, na roda improvisada. Um tenta cantar, depois, com vergonha diz que não sabe segurar o ritmo. O cientista fala que cante assim mesmo, pois brasileiro canta, mas não sabe tocar. Outro entra no berreiro e improvisa. Sem saber a causa, alguém começa a falar em inflação. Um baixinho diz que esse negócio de inflação é coisa moderna. Palavras e expressões chegam das cidades maiores, cujo povo inventa palavras e cacoetes todos os dias, joga na mídia e atropela a nossa linguagem cabocla. Freguês agora é cliente e carestia passa a chamar-se inflação. A mulher simpática que está na roda também opina. Diz que no sumiço de dinheiro público o pobre rouba, o rico desvia e o político corrompe. Aí novamente voltam ao assunto da inflação. Um português tenta explicar aos que estão de fora que na sua região o trem é culpado. Tudo era barato, mas a inflação tomou conta porque o trem passa por ali. É como se o apito da máquina fosse um berrante do Centro-Oeste ou búzio de vaqueiro nordestino. Vai vender tapioca, laranja, cocada, sanduiche? Cobre caro, aproveite o trem. E o gigante da força vai comandando a subida dos preços, na linguagem interessante do povo da roda. “No cabaré também é assim, fala um moreno experiente. “Tudo é caro. A bebida, o tira-gosto, a buchada, o diabo!...”. Diante das interrogações, o moreno tenta esconder a cabeça por trás dos ombros e diz com simplicidade ingênua: “Cabaré é cabaré”. Estou falando da zona mesmo, do puteiro, do gamba, da gandaia... É tanto nome que o povo bota...”.
O baixinho volta a comentar que lugar de carestia mesmo são Maceió e Santana do Ipanema. “Lugares onde Judas perdeu as botas”. Nessas alturas um padeiro tenta lembra algo e diz: “Ele está certo. Há muitos anos um repentista da feira já cantava com o pandeiro:

Maceió é pra negócio
Santana pra carestia
Mulher feia só no Poço
Ôi pelado n’Àgua Fria
Cachaceiro no Chicão
E ladrão na Maravia”.

Repentinamente a roda desapareceu como se formara levando a sabedoria singela do povo. E quando a cabeça começa a se encher com tantos problemas difíceis, o divã da plebe ameniza o “X”. Ão, ão, ão, miolo de pote é a solução! Sei lá! É IR ÀS RUAS.


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