O
TAPETE VERMELHO
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de julho de
2013.
Crônica Nº 1050
Prossegue o mês de julho com
pluviosidade pouca e um frio de matar sapo. Passada a euforia e os problemas
somados da Festa da Juventude, a ressaca da festa vai esvaziando as ruas de
tantos motores endoidecidos. Diz o povo que “mês
meou, mês findou”. Mal começa a morrer a filha, a mãe vai se erguendo e
procurando saber o que restou para ela. É que a Festa da Juventude era um
capítulo dentro da outrora maior festa religiosa do interior. Desmembrou-se e,
por isso ou por aquilo, continuou atuando dentro do mesmo mês, vizinha de
parede com a Festa da Padroeira. O resultado é que a Festa da Juventude cresceu
tanto que virou monstro e engoliu a mãe. Duas grandes festas vizinhas não
deveriam existir, mas as cabeças organizadoras ignoram as circunstâncias, o
desgaste e os problemas, deixando as duas encangadas. O que restou para Senhora
Santana? Prossegue o mês de julho com pluviosidade pouca e um frio de matar
sapo. Os barreiros, açudes, barragens, não conseguiram captar água necessária
para a longa travessia primavera/verão até as trovoadas. O mato está verde. As
capoeiras rapidamente recuperaram a plenitude da vida, deixando a falsa crença
que os campos estão repletos de animais selvagens de grande porte.
Diante de um inverno que imita a “seca verde”,
o agricultor coloca um chapéu à cabeça, joga o currião aos ombros, emparelha os
bois e vai à abertura da Festa de Senhora Santana. Talvez a força da avó do
Cristo possa mover os obstáculos do clima que maltratam o camponês. Os milhares
de pessoas de fora abandonaram à cidade após o farto banquete da Juventude.
Senhora Santana vem ocupar o seu espaço que o filho ingrato tomou. Já se
deliciaram com toda a carne do banquete e a dona de casa perdeu a sua vez. Onde
estão os convivas de outras praças nesse momento? Ora, já chegaram e partiram
montados em cavalos de paus de madeira nova. “Mês meou, mês findou”. A filha engoliu a mãe. As abelhas penetram
na caatinga, o boi cava o chão e o sertanejo reza. É o terço da mãe de Deus, da
crença nos céus, da ingratidão dos homens. Pluviosidade pouca, frio de matar
sapo, coração gélido do inacreditável. E bem ali vai se aproximando agosto, o
mês do desgosto, para se encaixar na incoerência humana. Puxaram o tapete
vermelho da Padroeira.
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