A
QUIETUDE PERIFÉRICA
Clerisvaldo B.
Chagas, 12 de maio de 2016
Crônica Nº 1.509
Conjunto Eduardo Rita, periferia de Santana do Ipanema. Foto: (Clerisvaldo). |
É sempre necessário
para o espírito, uma volta na periferia da cidade, principalmente nas
produzidas do interior. Uma busca com o passado, descoberta de valores e paz que
se encontra, pagam muito bem uma bela caminhada.
Uma subida a pé pelas
areias e marginais do rio Ipanema, no lugar barragem, é um dos ritos
milionários para a alma. A vegetação no leito seco do rio, a tonalidade das
pedras, os seixos rolados e os rastros de animais nas bebidas, parecem lugares
distante do centro. Vez em quando a surpresa do inusitado como uma imagem de
santo encontrada numa pedra. A poça no recanto, bem escondida, os pequenos
peixes na água cristalina, o balanço do mulungu dentro da folhagem, vão
emprestando o retrato de lugar virgem ainda não visitado.
Adiante, porém, a
ilusão de se estar sozinho é quebrada pela cerca de arame que abarca pedaços da
natureza. A areia do rio explorada e o rio roubado. A queima de árvores
pujantes ou o lixo deixado na ribanceira revelam a presença nefasta dos inconscientes.
Abrem-se os cenários
do sul e surge o serrote Cruzeiro dominando a cidade. Monte verde, motivado
pelas últimas chuvas, matas de capoeira sem uma só árvore frutífera para
segurar os passarinhos. E o silêncio profundo só é quebrado pelo vento nas
galhas finas ou pelas pernas do calango ligeiro. Capelinha no topo, triste e
solitária revivendo o passado e aguardando quem não vem. Lá embaixo, o conjunto
Eduardo Rita. Uma pobreza que faz dó. Um abandono triste pelos que tudo podem.
E o Ipanema, de
passagem no vale, parece chorar de desgosto por tanto lixo lhe jogado.
É um mundo mágico, a
periferia, mas, como esse mundo é esse mundo, o limpo nunca está longe do sujo.
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