quinta-feira, 12 de maio de 2016

A QUIETUDE PERIFÉRICA



A QUIETUDE  PERIFÉRICA
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de maio de 2016
Crônica Nº 1.509

Conjunto Eduardo Rita, periferia de Santana do Ipanema. Foto: (Clerisvaldo).
É sempre necessário para o espírito, uma volta na periferia da cidade, principalmente nas produzidas do interior. Uma busca com o passado, descoberta de valores e paz que se encontra, pagam muito bem uma bela caminhada.
Uma subida a pé pelas areias e marginais do rio Ipanema, no lugar barragem, é um dos ritos milionários para a alma. A vegetação no leito seco do rio, a tonalidade das pedras, os seixos rolados e os rastros de animais nas bebidas, parecem lugares distante do centro. Vez em quando a surpresa do inusitado como uma imagem de santo encontrada numa pedra. A poça no recanto, bem escondida, os pequenos peixes na água cristalina, o balanço do mulungu dentro da folhagem, vão emprestando o retrato de lugar virgem ainda não visitado.
Adiante, porém, a ilusão de se estar sozinho é quebrada pela cerca de arame que abarca pedaços da natureza. A areia do rio explorada e o rio roubado. A queima de árvores pujantes ou o lixo deixado na ribanceira revelam a presença nefasta dos inconscientes.
Abrem-se os cenários do sul e surge o serrote Cruzeiro dominando a cidade. Monte verde, motivado pelas últimas chuvas, matas de capoeira sem uma só árvore frutífera para segurar os passarinhos. E o silêncio profundo só é quebrado pelo vento nas galhas finas ou pelas pernas do calango ligeiro. Capelinha no topo, triste e solitária revivendo o passado e aguardando quem não vem. Lá embaixo, o conjunto Eduardo Rita. Uma pobreza que faz dó. Um abandono triste pelos que tudo podem.
E o Ipanema, de passagem no vale, parece chorar de desgosto por tanto lixo lhe jogado.
É um mundo mágico, a periferia, mas, como esse mundo é esse mundo, o limpo nunca está longe do sujo.

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