OS
ESPINHOS DE RAUL
Clerisvaldo B.
Chagas, 18 de maio de 2016
Crônica
Nº 1.513
JUAZEIRO. Foto: (Natureza em Fotos). |
Vamos abrindo espaço
para a crônica “Espinhos Benditos”.
“No verão, os campos
de nossos sertões, por natureza, áridos, tornam-se nus e escaldantes. O solo,
pedregoso, fica exposto á inclemência dos raios solares, que ali raramente
sofrem a interferência, deveras providencial, de nuvens que passeiam no firmamento
atenuando os rigores caloríficos da estiagem.
Aqui e ali se alteiam
paradoxalmente, no espaço cinzento da paisagem, as verdes copas de juazeiros e
quixabeiras, que, como uma bênção de Deus, dão com prodigalidade, sombra,
flores e frutos, num verdadeiro desafio ao sol intenso e constante, que cresta
os outros vegetais, notadamente arbustos e gramíneas.
As aves e os pequenos
animais salvam-se com frequência, não apenas da insolação, mas também da
fraqueza extrema e da morte por inanição, graças à presença dessas árvores.
Elas resistem milagrosamente ao martírio da seca, parece que em favor dos gados
mirins, que por sua vez dão leite e carne aos também sofridos donos e
proprietários.
Faz gosto vermos
esses vegetais frondosos, que embora espinhentos, são um refrigério na vida
agoniada da miuça leiteira. É que, como as abelhas bravias que defendem no
tronco oco das árvores antigas o mel de sua produção, os espinhos vegetais
impedem que a mão predatória do homem desfaça a fonte de salvação que deles
brota, durante a seca, em prol da criação pequena, composta de ovinos e
caprinos.
No campo sensório de
todos nós, há também aridez e desertos. E há igualmente (graças a Deus),
juazeiros e quixabeiras de salvação, verdadeiros oásis que são uma confirmação
inequívoca da presença de Deus na Natureza.
Aqui, a aridez
desértica é representada pela indiferença dos que vêem mas não sentem o
sofrimento alheio, ao passo que a alma humana movida pela compaixão e pelo
atendimento, configura o refrigério das árvores que abrigam os pequenos animais
e as aves que as procuram
É a força suprema de
Deus, expressa na Natureza aos nosso olhos”.
MONTEIRO,
Raul Pereira. Espinhos na Estrada.
Caravela, Campina Grande, 1999. Pags. 23-24.
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