O LEITEIRO URBANO. Foto: (Clerisvaldo). |
O LEITE
DA MÃE
Clerisvaldo B.
Chagas, 16 de maio de 2016
Crônica Nº 1.511
Com a volta do
leiteiro pelas ruas de Londres, resgata-se um costume bonito e saudável. Em
versão moderna, o leiteiro conduz em carro elétrico as garrafinhas do produto
e, pela madrugada ainda, sai distribuindo porta em porta dos contratantes. Escuro,
ruas desertas e frio intenso, o leiteiro solitário vai cumprindo o seu dever
prazeroso, apesar da solidão.
Sendo um país sério,
é de se supor que o leite fornecido seja integral e puro, como manda a honestidade
de quem tem caráter. E como não se pode deixar de comparar o que se passa neste
mundo velho de meu Deus, notamos a mesma tarefa no sertão alagoano, com algumas
particularidades.
Lembramos muito bem
dos tempos em que era vendido em pacotes o leite tipo C, em Maceió,
especialmente nas padarias. Mesmo esse leite empacotado e popular, já era alvo
de críticas e comentários nas rádios da capital, sobre a sua qualidade comprometida
pela água e outros produtos estranhos.
No Sertão não falta
vendedor de leite, tanto em residências quanto nas ruas, Nas ruas são distribuídos
em balde de fazendas transportados em motos. A diferença para a Inglaterra é
que ele não vem em garrafinhas para ser deixadas nas portas, pela madrugada.
Surge depois das oito, quando a temperatura está bastante elevada. É servido
através de um caneco em que se supões tenha um litro na medida. Outra diferença
é que nenhum resiste como original a mais de três dias. Isto é, o cliente
(palavra que substituiu freguês) pode receber leite puro pela primeira vez e,
no máximo, até a terceira. Daí em diante, leite talha na panela ou fica azulado
que nem para doce presta, pelo tanto de água acrescentada. Que tipo de água?
Esse é mais um mistério sertanejo.
O costume da roubalheira
vai daí aos engravatados de Brasília. E pensar que na Grécia antiga um homem
saiu pelo dia com uma lanterna acesa procurando um cidadão de vergonha... Quer
leite puro, caro leitor? Só voltando aos inolvidáveis tempos e ao colo
garantido da mãe.
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