segunda-feira, 9 de outubro de 2017

BANHO DE CUIA

BANHO DE CUIA
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de outubro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.754

O regionalismo impera em todos os países do mundo, pequenos ou grandes. Além dos cardápios específicos, reinam ainda palavras e frases antigas e modernas, notadas apenas quando chegam visitantes de outras regiões. O futebol é um esporte que apresenta muitos termos locais, regionais e nacionais, uma grande riqueza de palavreado do mundo da bola. Na minha região sertaneja, passar a bola entre as pernas do adversário é “passar por debaixo da saia”. Mandar a pelota por um lado do adversário e alcançá-la do outro é “arrodeio”. Demonstrar cansaço no jogo é “abrir o bico” e puxar a bola por cima da cabeça do oponente é chamada “banho de cuia”. A maior desmoralização de todas é levar um “banho de cuia”.
A meditação geográfica dos termos futebolísticos veio com o jogo Brasil X Bolívia, realizado na quinta-feira passada em La Paz. Os narradores falaram mais de mil vezes na altitude, causando até enjoo de tanta repetição. Mas é verdade que La Paz vive nas alturas. Está localizada exatamente a 3.660 de altitude, entre um vale profundo rodeado de altas montanhas. Apresenta-se como a terceira cidade mais populosa da Bolívia e abriga a sede do governo. Foi fundada em 1548. Seu clima é tropical de altitude e sua temperatura fica em torno de 8 graus. Muitas atrações culturais atraem turistas de todas as partes do mundo, tendo a sua altura na Cordilheira dos Andes como atração maior.
Visto isso, voltemos ao futebol da quinta-feira. Creio que nenhum brasileiro jamais viu o Brasil jogar daquele jeito em nenhum lugar da Terra. Foi uma maneira inédita, inovadora e atraente como se o Tite estivesse inventando a roda. Muito mais de que uma belíssima partida – embora sem gol – o Brasil participava na prática de uma teoria científica que valeu muito mais de que uma vitória. Contribuía com a Ciência diante de um mundo perplexo em observar aquilo pela primeira vez. E se era espetáculos de três jogadores brasileiros que os bolivianos aguardavam ansiosos, foram brindados com um time inteiro na maneira de jogar que eles e o mundo jamais viram naquela altitude. Entusiasmado também com o que testemunhei, volto ao meu Sertão com suas expressões arretadas: FOI UM VERDADEIRO BANHO DE CUIA.



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