segunda-feira, 2 de outubro de 2017

MAMONA, REBANHO DE PESTE

MAMONA, REBANHO DE PESTE!
Clerisvaldo B. Chagas, 3 de outubro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.750

MAMONA. Foto: (remédiodaterra).
Houve época em que o sertanejo de Alagoas plantava feijão e milho como cereais básicos e tradicionais. O algodão, estimulado desde a década de 20, assegurava uma quantia extra de final de ano. Era esta renda extra que vestia e calçava a família campesina. O produto era dirigido à indústria e havia várias algodoeiras receptando, beneficiando, enfardando e exportando o capulho para as grandes indústrias brasileiras. Além das bolandeiras distribuídas por altos fazendeiros, a cidade de Santana do Ipanema tinha várias algodoeiras que geravam emprego e renda na área do semiárido. Um grande sertanejo dizia que “era preciso pelo menos UM produto industrial nas roças sertanejas” para fazer o papel do algodão.
Pois bem, as “farras” das grandes produções sertanejas de milho e feijão acabaram. As terras cansadas por vários fatores empobreceram o povo. Até a chamada Festa Regional do Feijão que em Santana do Ipanema foi apontada como a segunda festa agrícola do Brasil, há muito deixou de existir. Todas as algodoeiras fecharam com a política mesquinha do algodão.
Dois bons produtos hoje desafiam os mandantes que não estão nem aí para ideias progressistas: a goiaba e a mamona. A primeira está presente em todos os quintais sertanejos em cidades, vilas e povoados. Mas cadê pelo menos uma só fábrica de doce para estimular o cultivo e o cooperativismo? A outra é a mamona que prolifera em todos os quintais da pobreza, em margens e leitos secos de riachos e rio Ipanema, trecho urbano. Tem tanta carrapateira, camarada, que antes e ainda hoje o vegetal serve de privada das casas sem banheiro. Com algumas desculpas esfarrapadas, não foi à frente qualquer projeto de se cultivar para a indústria. Mas algumas regiões do Brasil estão produzindo e colhendo para a indústria do biodiesel.

Enquanto isso as nossas terras sertanejas exauridas e abandonadas pela boa vontade do poder público, vão produzindo apenas urtigas e rasga-beiço pelas veredas que as cercam. Foi por isso que em um bar famoso de Santana do Ipanema, entre outros, esse tema foi tocado.  Levantou-se da mesa um ex-bancário, agricultor e, erguendo os dois braços, falou quase gritando: “Mamona, rebanho de pestes!”.

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