SANTANA: A MORTE DAS
ALGODOEIRAS
Clerisvaldo
B. Chagas, 22 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Crônica: 2.220
SANTANA (FOTO: B. CHAGAS). |
Lampião gostava de
assaltar e extorquir em Alagoas, o estado mais rico daquela época. Havia vários
proprietários em sítios, povoados, vilas e cidades, industrializados com a
máquina de beneficiar algodão. A máquina enorme era chamada de vapor ou
bolandeira. Muitos desses proprietários rurais foram assaltados pelo bandido e
vários tiveram seus maquinários incendiados. Surgiram máquinas mais modernas
nas cidades sertanejas alagoanas, como em Olho d’Água das Flores e Santana do
Ipanema. Dentro do Ciclo do Algodão, as chamadas Algodoeiras, da matéria-prima
produziam capulho e caroço. O capulho era transformado em fardos quadrados, envoltório
de fita metálica, tornando-os rígidos para embarques em caminhões. O caroço do
algodão era vendido no próprio local do fabrico, comprado como ração do gado
leiteiro.
Até mais ou menos o
final do século XX, devido à concorrência com o algodão do Sudeste (melhor
qualidade e conchavos políticos), a praga do “bicudo” e a falta de incentivo do
estado, houve a extinção dos algodoais em Alagoas e a consequente morte das
algodoeiras. Em Santana do Ipanema funcionavam duas delas: a do industrial
Domício Silva, prédio enorme, de uma rua à outra, dividido em três frentes.
Estava situado à Rua José Américo e escoava sua produção pela parte lateral
voltada para o Largo da Feira, onde encostavam os caminhões para o transporte
dos fardos.
A outra algodoeira,
do industrial Arnóbio Silva, situava-se no largo da pracinha Siqueira Campos,
na ladeira logo abaixo da Escola Estadual Ormindo Barros, no Bairro Camoxinga.
Foi mais resistente, fechando por último. Sua produção era escoada pela lateral
direita já pertencente à Rua Delmiro Gouveia.
Ainda levei alunos
(Geografia) para visitar a algodoeira trabalhando de Domício Silva, compadre de
meu pai.
Com o ciclo do
algodão em crise, faleceram em Alagoas algodoais e algodoeiras e, antes, 12
fábricas de tecidos em todo o estado.
Prejuízo incalculável
para a Terra dos Marechais e páginas amargas e fúnebres, frutos do descaso
administrativo.
A indústria têxtil em
Alagoas era maior do que a canavieira.
Ave-Maria! Ave-Maria.
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