O JOGO E O RABO
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de novembro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.425
Antônio
Honorato ou Tonho de Macelon, tinha um bar no Comercio de Santana do Ipanema,
ponto de encontro da juventude social da época. Era o maior decifrador de
charadas de Alagoas. Gostava muito de poesia e apreciava ouvir um programa de
repentistas no rádio chamado “Onde Está o Poeta?”. Em seu bar discutiam-se,
principalmente, futebol e política.
José
Maximiano era um senhor, aposentado, que gostava muito de poesia, futebol e
jogo de baralho. Era apologista do repente e amigo de Tonho de Macelon, assíduo
ouvinte do mesmo programa “Onde Está o Poeta?” Mas nem sempre a pessoa está no
momento exato do humor para apreciar poesia.
José
Maximiano morava à Rua Nova e, o bar de Antônio Honorato, vizinho à entrada do
hotel de Maria Sabão, à Praça Senador Enéas Araújo, atual.
A
jogatina do baralho ficava nos fundos do bar de sinucas de Manoel Barros, (fora
chefe político no governo Arnon de Melo e dono de cartório) na mesma praça
acima, esquina Comércio/Rua Nilo Peçanha, onde também havia uma saída da casa
de jogo.
José
Maximiano era doce e explosivo conforme a ocasião. Certa noite descera até o
bar de sinucas, atravessara as mesas e fora direto para o jogo querendo
aventurar alguma coisa no baralho. Mas àquela noite a sua sorte não estava por
perto. Perdia uma parada atrás da outra na roda dos veteranos.
A
cada parada perdida, Maximiano inchava de raiva igual a sapo cururu.
Já
era quase madrugada quando Tonho Macelon entrou no bar de sinucas e se dirigiu
até o antro. Na mesa de jogo conheceu José Maximiano, seu amigo apologista.
Estava de costas e não deu para o desavisado Tonho contemplar o seu semblante.
E assim, o charadista chegou perto do amigo jogador, agachou-se e disse baixinho,
perto da nuca, referindo-se ao programa que ambos sempre ouviam:
--
“Onde está o poeta?”.
Má
hora para o charadista. Zé Maximiano meteu as duas mãos na mesa de jogo,
levantou-se para explodir e respondeu gritando, olhos arregalados e babando de
raiva:
--
Tá no rabo da mãe, seu fio da peste.
Um
silêncio pesado tomou conta da jogatina após o rabo da mãe.
SANTANA
SOBRE TELHADOS. (FOTO: B. CHAGAS).
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