O
DEPOSITÁRIO DO ORGULHO BESTA
Clerisvaldo
B. Chagas, 25 de novembro de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.424
A
verdade e a ficção para refletir sua própria vida:
No
Sertão alagoano do São Francisco, desembarcou por terra um senhor alto,
vermelho, tendo à cabeça um chapéu tipo expedicionário, alguns instrumentos numa
valise e máquina fotográfica à mão. Sem falar com as poucas pessoas que estavam
por ali, sentou-se à sombra de frondosa mangueira e começou suas anotações em
papel sobre prancheta. Mais de meia hora passou aquela figura a traçar no
papel, anotar e usar a máquina fotográfica. Sentiu sede, não pediu água a
ninguém, estava bem abastecido com seu cantil de metal coberto de lona. O rio,
que acabara de receber água nova, estava bastante agitado combinando com o
calor de mais de 39 graus.
Havia
entre os raros pescadores que estavam por ali, um rapazinho vivaz e curioso.
Aproximou-se daquela figura para ele estranha e, mesmo sem ser convidado,
indagou:
--
Quem é o senhor.
O
desconhecido respondeu empinando o nariz:
--
Sou um sábio, meu rapaz, um sábio. Um homem que sabe tudo, compreende?”
O
jovem, entre a ironia e a ignorância, novamente indagou:
--
Ah! Entendi, o senhor é cartomante...
O
homem não gostou, engoliu seco e falou:
-- Para não perder a sua essência, sabedoria
não dialoga com incautos, ignóbeis, lunáticos e analfabetos. Arranje-me uma
canoa que eu pretendo vadear o rio. Bem remunero com o valor regional.
Dessa
vez o rapaz entendeu e chamou um canoeiro dos mais antigos para fretar a
canoa. Mesmo advertido sobre uma
tempestade que se aproximava, o sábio insistiu na viagem urgente. Feito o
devido ajuste de preço, embarcaram ambos.
O
pescador remava calado, mas o sábio começou a indagar:
--
O senhor fala inglês?
O
canoeiro respondeu:
--
Nem sei o que é isso, meu senhor.
-- Pois, então perdeu
um quinto da sua vida. -- E voltou à carga:
--
O senhor conhece Geografia?
--
Não senhor”.
--
Pois perdeu dois quintos da sua vida -- Ainda insistiu o sábio:
--
Afinal, pelo jeito, não sabe ler nem escrever...
--
Sei não senhor... Respondeu o canoeiro, já bastante aborrecido.
--
Pois sendo assim, já perdeu três quintos da sua vida.
Nesse
momento a tempestade aproximou-se, as águas se agitaram vigorosamente, a canoa
rodopiou chegando a vez do pescador fazer a sua indagação:
--
O senhor sabe nadar?
--
Sei não, respondeu o sábio, apavorado. O canoeiro voltou-se e disse:
--
POIS PERDEU A VIDA TODA! -- Abandonou o remo e pulou nas águas revoltas do rio
São Francisco.
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