quinta-feira, 12 de novembro de 2020

 

BANHA DE PORCO

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de novembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica:  3.417


Estamos vivendo a crise de preço dos óleos de cozinha. Antes desses óleos industrializados, sempre usávamos em nossos sertões, a banha de porco para os cozimentos alimentares. Para isso, os produtores criavam nas fazendas, nos sítios e nos quintais urbanos dois tipos de porcos onde não se usavam os nomes científicos das espécies. Eram simplesmente chamados porco baé e porco do focinho grande. Ambos eram alimentados com lavagem, abóbora, soro do leite, grãos e qualquer resto de alimentos jogado na lata de lavagem que era o líquido de água usada e esses restos de inúmeros alimentos. O porco Baé, menor, arredondado, focinho curto, bom comedor e engorda rápida. O porco do focinho grande, maior e mais comprido, era muito ruim de desenvolvimento para o abate.

Dos porcos abatidos artesanalmente aproveita-se a carne e a banha que serviam para fazer torreiro e para cozinhar os alimentos das casas sertanejas. Torreiro e não torresmo de “praciante” besta. Em Santana do Ipanema, seu Antônio (?) Simões, na ponte do Padre, era famoso vendendo torreiro na sua bodega bem localizada com esse produto delicioso e nutritivo. O senhor (?) Santana, no final da Rua das Panelas, também vendia torreiros saborosos. O segredo era metade carne, metade couro, passados na banha de porco. Outras pessoas também produziam essa delícia sertaneja. Até as padarias compravam banha em latões para o fabrico de suas iguarias.

Seu João Soares, no bairro Monumento era mestre na produção e venda de torreiro, banha e carne de porco até para exportar. Aliás, a banha de porco que o Sr. João Soares exportava, nem precisava testes de compradores como faziam com outras. A sua honestidade e dignidade falavam por si na alta qualidade da banha que produzia. O saudoso João Soares Campos chegou a montar um açougue muito moderno para a época, na esquina do beco do Mercado de Carne, público. Quando a medicina condenou a banha de porco em defesa de óleo industrializado, tudo mudou, a banha desapareceu do mercado. Mas, com o novo conceito medicinal, a banha de porco está voltando à praça, vendida nas feiras camponesas e mesmo em supermercados. O porco baé e o de focinho grande, foi substituído pelo suíno gigante, amarelo e comprido, criado com as mais avançadas tecnologias. O povo do Sertão chama esse novo porco criado para a indústria de “porco galego”. Mas a banha de porco voltou com força ao mundo doméstico em condenação aos óleos e elogios a banha para a saúde do povo brasileiro.

Banha de porco: heroína, Vilã, heroína de novo, IRONIA DAS COISAS.

(FOTO: savegnago.com.br).

 


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