CIÇO
DOIDO
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de fevereiro de 2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.193
Com a aproximação do Carnaval, que não mais
existe em Santana, pelas próprias mudanças dos tempos, cabe aqui registrar o
que já foi registrado. O Carnaval santanense, que ia do sábado de Zé Pereira à
terça, apresentava os blocos de rua na parte da manhã. Raramente alguns
passavam para a parte da tarde. Aqui acolá havia bandos de caretas (bobo ou
papa-angu) outras cidades e estados. Aqui acolá bandos de caretas acompanhava
um bloco, de repente e, de repente também, deixavam-no de lado. Eu, entrando na adolescência ainda não havia
estreado em bandos de caretas. No quintal da casa do senhor José Urbano e dona
Florzinha, fazíamos as máscaras. Para isso pegávamos barro de telha e tijolo da
olaria do Sr. Eduardo Rita, moldávamos em forma de cachorro, de cão, de gente,
de porco...
Colocávamos a forma a secar ao Sol. Depois de
seca, íamos colando papel de jornal e um papel liso por último. Após secar tudo
ao Sol, pintávamos a máscara, colocávamos os buracos para o elástico segurar a
máscara à cabeça e pronto. Depois era trajar roupas diversas, esconder o
restante da cabeça, arranjar um relho com ponteira e ganhar as ruas arrulhando:
Rrrrrr.... Rrrrr.... e dando carreira em menino estalando o relho.
A primeira vez, saímos pelo portão que dava para a Rua de Zé Quirino, devidamente
trajados, quando avistamos outros caretas pela rua, inclusive um careta enorme
e que nos assustou. Mas ele se aproximou de nós e indagou baixinho: Quem são
vocês? Respondemos. Indagamos de volta quem era ele. O careta muito alto
respondeu: Ciço, Ciço que o povo chama de
Ciço Doido!
Pronto! Estávamos aliviados e garantidos pelo
tamanho do careta do outro bando. Quem iria mexer conosco, com um caretão
daquele por perto com relho na mão? Ciço Doido era o filho mais velho do senhor
Manezinho de Melo, morador da Rua São Pedro. Era irmão de “Barata”, Manoel e
outros. Todas, pessoas excelentes, porém, faltando certo ajuste na cabeça de
cada um deles.
E para não ficar devendo, o Carnaval santanense
tinha corso pela tarde (passeios de automóveis rua acima, rua abaixo) frevo
entre os prédios do meio da rua às 16 horas e matinê no Tênis Clube à mesma
hora e, à noite para adultos, regado a lança-perfume, confetes e serpentinas.
No clube “Sede dos Artistas”, também.
Mas nunca esqueci da primeira experiência como
careta e nem de CIÇO DOIDO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário