sexta-feira, 28 de maio de 2010

BOCA DE CAIEIRA

BOCA DE CAIEIRA
(Clerisvaldo B. Chagas. 28.5.2010)
Nas andanças, como estudante, em Maceió, pela praça da faculdade de Medicina, colegas falavam sobre a região do Ouricuri, ali perto, e a Coreia, mais adiante. Do Ouricuri diziam do perigo permanente da marginalidade que dominava a pobreza do lugar. Quase todas as batidas policiais ocorriam no Ouricuri que sempre estava em evidência nas páginas dos matutinos Jornal e Gazeta de Alagoas. Da Coreia, a conversa era outra. Seria um bairro de população composta de mulheres maduras. Estava no auge à cantora de forró, Cremilda, que pouco a pouco invadia o espaço nordestino da famosa colega Marinês. Com tantas músicas bonitas e vibrantes (eu era seu fã) Cremilda lança um forró dizendo desse último lugar de Maceió. Aproveitava a indicação do povo e cantava:

“Na Coreia
Na Coreia
Só tem veia
Só tem veia...
(...) Na Coreia eu não vou mais.”

Não faz muito tempo, em Santana, inventaram um forró do outro lado do Ipanema, lá para as bandas do lugar chamado Eduardo Rita, saída para Olho d’Água das Flores. Esse forró acontecia durante uma tarde por semana, foi tomando corpo e passou a ser bastante conhecido e apreciado. Pela Rua São Paulo, em direção ao rio, só se via passar velhinhos bem vestidos e durinhos rumo ao outro lado. Nem era preciso perguntar. O povo dali mesmo apontava e dizia: “Vai para o forró das veias”. Durou bastante tempo, o “forró das veias” em Santana do Ipanema. Divertiu muita gente madura e jamais se ouviu falar em briga, arruaça ou arenga. Que falta faz o “forró das veias”!
Lá do outro lado do mundo, investigações internacionais dão conta de que a Coreia do Norte teria partido ao meio uma corveta da Coreia do Sul. Um míssil lançado de um submarino atingiu em cheio o barco de guerra que foi ao fundo do mar com quarenta e seis mortos. Descoberto o ataque, a Coreia do Sul promete represálias. O pai do mundo, Estados Unidos, que jogaram seus filhos para morrer no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão, incentivam a Coreia do Sul para uma guerra fratricida com a vizinha de cima que eles dizem fazer parte do “eixo do mal”. A Coreia do Norte, de economia arrasada igual a Cuba, investe somente em armas com o mesmo pensamento arcaico da antiga União Soviética. Saída da poeira do passado, ainda vive da ilusão comunista e da força das armas. Os Estados Unidos, sedentos de sangue e malucos para testarem novas armas, já encontraram o novo brinquedo fora do Irã: a Coreia do Norte. Caso haja um confronto, primeiro eles mandarão a Coreia do Sul, mas depois não resistirão à guerra e entrarão no conflito. Arrasada economicamente, a Coreia não tem como sustentar uma guerra prolongada. Mas, se conseguir apoio da China, Os Estados Unidos não terão como sair de lá sem uma derrota como aconteceu no Vietnã, no Iraque (pela prorrogação) e agora no Afeganistão, engolidor de americanos.
Mexer com a Coreia do Norte é entrar num vespeiro sem tamanho. Mas os Estados Unidos podem pensar que é a mesma coisa que dançar no “forró das veias” em Santana do Ipanema, ou namorar na Coreia de Maceió. E como diz um doido da minha cidade, aquilo ali, amigo, é BOCA DE CAIEIRA.





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quinta-feira, 27 de maio de 2010

QUEBRANDO BANCAS


QUEBRANDO BANCAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 27.5.2010)

O tempo até parece que perdeu o juízo, igualmente aos homens.  E aqui na capital ninguém sabe se já é inverno, a não ser o cientista Molion. Vamos registrando o cotidiano deste Maceió “velho de guerra”, obrigação de cronista. Chuvas inesperadas expulsam os transeuntes dos calçadões, mas não refrescam o calor sufocante do tropical úmido. A esperança da copa também chegou à “Cidade Sorriso” com o predomínio do verde e amarelo. A propaganda bicolor está em todas as marquises, em todas as vitrinas, em todas as fachadas. Desafiando o tempo, desfila a seleção brasileira de futebol pela Praça dos Martírios. Espere! Não, não é a seleção brasileira de futebol. Trata-se, na verdade, do desfile de carteiros guiados pelo som de um carro a fazer barulhentas reivindicações. A velhinha, no ponto de ônibus, dá graças a Deus pelo movimento. Ao ser interrogada se faz parte dos Correios ela responde que não é isso. O que deixa a velhinha momentaneamente feliz, segundo ela mesma, é a possibilidade no atraso às cobranças que chegariam a sua casa. Um estudante, amparado numa cobertura, coloca dois dedos à boca e assovia para os profissionais que desfilam. Não conformado, ao contrário da velhinha, sapeca ainda uns dois palavrões impublicáveis e uma crocante banana comprida em direção ao desfile. Quero perguntar o motivo da revolta, mas o estudante forte, tatuado, cara de mau, parece não receptivo à conversas
A chuva dá uma trégua. Os transeuntes estufam do interior das lojas. Escorrega argila das escavações pelas poças das ruas, automóveis banham os passantes, enquanto o sujeito do carrinho aumenta o som dos CDs piratas. (Quem diabo dá jeito na pirataria do mundo?!) Encontro uma conhecida na calçada estreita. É nervosa, agitada, fala muito alto. Não quer me deixar seguir. Parte para me contar um longo rosário da sua vida. A educação me planta, mas a razão quer distância. A senhora me puxa o braço a cada fração da sua narrativa, interrompe o trânsito humano, chama atenção e, eu peço socorro aos céus. Toca o celular da senhora que se apressa a atender. Na oportunidade única, invento uma despedida de político e consigo quebrar as correntes da gentileza. Surgem soldados correndo atrás de um larápio, animando as ruas movimentadas. O povo gosta da competição. O ladrão bate o recorde mundial dos duzentos metros com obstáculos e some lá na frente. É Alagoas perdendo bons atletas para as Olimpíadas de 2014. A alegria dos apreciadores desse tipo de competição, dura pouco e tudo volta à normalidade.
Na esquina do quarteirão penso em desligar o aparelho do observatório, mas de repente, o que me chega! Aparece um daqueles azoados, muito mais nervoso do que a senhora do celular. Arregala os olhos, passa as mãos na calça e aponta o dedão para mim perguntando animado: “Tá morando aqui?” Meu Deus! Será que vai começar tudo de novo? Se eu fosse amigo de cambista, na certa apostaria no burro... O mais nervoso de todos os bichos. Casos assim costumam acontecer QUEBRANDO BANCAS.

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