domingo, 1 de agosto de 2010

NAS CAVAS DOS CINZEIROS

NAS CAVAS DOS CINZEIROS
(Clerisvaldo B. Chagas - dois de agosto de 2010)
(Aos seresteiros, poetas e românticos de Alagoas)
Resolvi dar um tempo em outros afazeres para tentar formar uma coletânea musical. Todos gostam de música, mas nem todas nos agradam. Para curtir numa viagem ou para relembrar emoções, dei início à tarefa que parecia fácil. Para adiantar as coisas, apelei para a Internet. Achei que as músicas que mais marcaram parte da minha vida giravam em torno de quinze. Um concentrado de pelo menos vinte, já estaria de bom tamanho. Pela melodia, letra e marca do momento, fui selecionando as vinte que o meu saudoso compadre Marques Aguiar chamaria de “cavernosas”. No momento, estou na décima sexta. A primeira dificuldade foi lembrar os nomes das músicas, somente com trechos de referências. Consegui encontrar quase todos os títulos. O segundo obstáculo foi não encontrar as letras de alguns títulos. O terceiro barranco foi, após encontrar título e letra, não encontrar o compositor (coitado, fica sempre esquecido). A quarta dificuldade futura poderá ser encontrar um seresteiro por aqui com a coragem suficiente para cantar e gravar as vinte homicidas para uso doméstico. Foi impossível não se lembrar de pessoas de Santana que gostavam de cantar algumas dessas cavernosas. Vou citar, portanto esses nomes que os recordo através desse trabalho. Para elas será uma grande surpresa. Fora a letra, o que faltar foi porque ainda não encontrei: intérprete, compositor ou data de lançamento.
“A Pérola e o Rubi” e “Tarde Fria” (in. Cauby Peixoto); “Noite de Insônia” (in. Nelson Gonçalves); “Risque” (comp. Ari Barroso); “Lama” (comp. Marcus Caffé); “Vingança” (comp. In. Lupicínio Rodrigues); “Ninguém chora por mim” (comps. Evaldo Gouveia e Jair Amorim. In. Moacir Franco); “Recordação de Ypacaraí” (comp. Zulena Merkin e Demetrio Ortiz. In. Perla); “Ronda”. “Mané Fogueteiro”, “Senhor da Floresta”, “Grande Mágoa” e “Ave Maria” (in. Augusto Calheiros); “Abandono” (in. Altemar Dutra) e “Lá no Pé da Serra (Você Vai Gostar)” (comps. Jorge e Mateus. In. Vanusa); “Nervos de Aço”.
Pela ordem, a primeira música lembra Cícero de Mariquinha (o maior cantor). A quarta, a quinta e a sexta, lembram Norma, prima que ajudou a minha mãe a me criar. Cantava sempre em casa. A sétima é o ex-colega de Ginásio Omir Pereira (cantor quase profissional). A oitava, Miguel Lopes (cantor de profissão). A nona lembra a ex-prefeita e excelente cantora, Linda. A décima e a décima primeira trazem a lembrança do seresteiro Juca Alfaiate. A décima segunda, Mário Nambu em vida. A décima quinta recorda Barbosinha, o homem da voz educada. E, a décima sexta, vem o boêmio Miguel Chagas. Uma, porém, está quase impossível de consegui-la, cujo trecho é: “Ó mãe/ palavra santa de tanta grandeza/traduz/ o que há de mais belo nessa natureza...” Só. Era cantada por Agnaldo, também chamado Gaguinho, (voz de ouro) pertencente à banda musical da Polícia Militar de Alagoas. Pelas madrugadas, diante da casa de Dona Florzinha, esposa do senhor José Urbano, Aguinaldo era um rouxinol que fazia chorar. Título, letra, autor e até mesmo o intérprete dessa música, não consegui. Espero que alguém nos dê pelo menos uma pista. “Grande Mágoa”, última música de Augusto Calheiros, não encontrada, só referências. Como você pode ajudar a encontrar as duas letras?
Estou seguindo a “Insônia” de Nelson Gonçalves, nesta madrugada (quatro horas e trinta minutos). Ainda vou colocar umas daquelas de Altemar (voz preferida) para dormir. Ai, ai... Fósforos sacudidos, violões chorosos... Quantos amores exaltados, quantas paixões morrendo nas CAVAS DOS CINZEIROS.


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sexta-feira, 30 de julho de 2010

LAGO DE MEL

LAGO DE MEL
(Clerisvaldo B. Chagas. 30 de julho de 2010)
Quando saiu a notícia e foto de um caminhão queimando em pleno centro de Olivença, Alagoas, veio à lembrança uma fogueira diferente. Aconteceu lá mesmo na cidade de Olivença em 1926. Após o ataque à vila de Olho d’Água das Flores, Lampião ainda passou pelo povoado Pedrão (pé) onde sequestrou o empresário Calixto Anastácio em busca de resgate. Dali o bandoleiro partiu para o outro povoado chamado Capim que corresponde a Olivença de hoje. Fazendo algumas estripulias, Virgulino Ferreira da Silva, por isso ou por aquilo, mandou queimar um vapor de descaroçar algodão. Morreu queimado nesse incêndio, um próprio cabra do bando, cujo nome não foi repassado para a posteridade. Nessas investidas de Lampião, uma numerosa volante seguia seus passos. Essa força policial era comandada pelo tenente Elpídio e subcomandada pelo sargento Joaquim Estanislau de Brito. Quando a fumaça ganhava os céus do Capim, foi vista pela tropa do governo que não estava tão longe do povoado. Imediatamente o oficial mandou a tropa fazer alto e bivacar. O sargento, homem disposto, doido por um combate, ficou surpreso perante a ordem do comando. Indagado, o tenente disse que a tropa estava com fome e precisava parar para comer. Roendo-se de raiva pela covardia do superior, o sargento pensou em revoltar-se, mas sentiu que a disciplina estava acima de tudo. Dando tempo suficiente para que os perseguidos fossem embora, só então o tenente resolveu prosseguir rumo à fumaça. Quando a força entrou no povoado, a única coisa que fez foi mandar sepultar o cangaceiro defunto. Essas lembranças, também ficaram registradas através do futuro escritor Oscar Silva.
Vamos divagando sobre a nossa missão aqui na terra. Cada profissão escolhida exige do seu praticante um sério compromisso seja ela qual for. O sujeito não pode ser juiz, promotor policial... se tem medo de bandido. Um médico não pode exercer bem a profissão se tem horror a sangue. Professor não pode ser eficiente se não é dado às pesquisas e, assim por diante. No caso da numerosa volante que perseguia cangaceiros, faltou, no mínimo, uma espiadela no povoado para avaliar uma condição de combate. Nada foi feito, como vimos. Sentar, comer e beber é muito mais cômodo para os que fogem à luta. Bem assim, confiamos a princípio em nossos dirigentes como o sargento Brito confiava na patente do seu superior. Ficou insatisfeito, decepcionado como comentou mais tarde entre seus amigos. Nós reunimos forças e elegemos os nossos representantes que nos parecem pessoas honestas e dispostas a alavancar o progresso que teima em não chegar. Acontece que o desengano com eles não é apenas um caso esporádico, uma exceção na regra geral. É uma carreira de contas decepcionantes de rosários sem alívio de Pai Nosso. Disse-me certo dono de transporte alternativo que é muito difícil se manejar o mel sem lamber os dedos. Concordamos plenamente com as sensatas palavras que o homem ouviu da sua mãe. Acontece que os que manejam com o doce tão cobiçado, não se conformam apenas em lamber os dedos. Como o chefe da volante do Capim, eles esquecem completamente o dever assumido anteriormente. Querem o favo todo, brigam pela colmeia e sem mais controle nenhum, vão-se afundando cada vez mais no imenso, doce e ardiloso LAGO DE MEL.

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