quinta-feira, 9 de setembro de 2010

MORENO FECHA O CANGAÇO

MORENO FECHA O CANGAÇO
(Clerisvaldo B. Chagas, 10 de setembro de 2010)
     O ciclo do cangaço com o bando mais famoso de todos, o de Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, acaba de fechar com a morte do seu último homem. Trata-se do ex-barbeiro, caseiro, Antonio Inácio da Silva que, para viver em paz, adotou o novo nome de José Antonio Souto. Antonio era pernambucano e logo cedo foi morar em Brejo Santo, terras cearenses, onde sempre cultivou o desejo de ser integrante da polícia militar. Foi rejeitado pelo menos por três vezes, inclusive acusado de roubar um carneiro, apanhou da polícia e chegou a ser preso. Ao sair da cadeia matou o verdadeiro ladrão e fugiu para Pernambuco e Alagoas deixando rastros de mortes por onde passava. Em Alagoas, já chegou com fama de valente. Trabalhando em uma fazenda contra ataques de cangaceiros, fez amizade com o cunhado de Lampião, Virgínio ─ que fazia parte do estado-maior do bando ─ e a ele se integrou. Como Virgulino dividia o bando em subgrupos, cada um deles em média com seis homens e um chefete entre os de confiança, Antonio logo chefiava um desses subgrupos com o nome de Moreno. De cognome simpático e de fácil memorização, dizem, porém, que Moreno era um dos mais cruéis cabras de Virgulino. Na época em que mulher já era permitida no bando, Moreno tinha como companheira, Jovina Maria da Conceição, apelidada Durvinha, tendo participado de todas as ações do cangaço da década de 30.
     Após a tragédia de Angicos, em 1938, Moreno e Durvinha sobreviveram ainda até 1940 como cangaceiros. O casal fugiu dos sertões nordestinos para Minas Gerais, deixando um filho nas mãos de um padre. Combinaram nunca contarem a verdade a ninguém e assim viveram em Minas como pessoas comuns e nem a família desconfiava. Vivendo ali por setenta anos, o segredo só veio à tona em 2005. Durvinha faleceu em 2008 aos noventa e três anos de idade e sempre teve medo de ser degolada pelas forças volantes das caatingas. Moreno, aos cem anos, faleceu segunda-feira passada em Belo Horizonte (6 de setembro de 2010 ) e foi sepultado no dia sete no Cemitério da Saudade. Sua vida revelada deu motivos para fundação de museu, pesquisa, livro, entrevistas e filme.
     Fechado esse ciclo do cangaço com o ex-cabra Moreno, nada impede que a Literatura cangaceira continue, capenga ou não. No meio de alguns pesquisadores sérios, proliferam tantos palestrantes mentirosos, inocentes e birutas que faz gosto. E Lampião vai virando o que não foi, rolando em palavras de entusiasmos, em papéis azedos, em mentiras deslavadas. Nem sabemos dizer se as histórias do cangaceirismo ainda atraem pessoas. O que não falta é “doutor” no assunto, muito mais do que o falecido Moreno e a companheira Durvinha que conviveram com o chefão em carne e osso. Dizia Antonio em Belo Horizonte que matara vinte e uma pessoas. Os pesquisadores calculam em muito mais. Quer pesquisar? Dane-se no mundo e pesquise. Pode ser até que você encontre outro cangaceiro mais velho do que Antonio. Se não encontrar, invente. Pelo menos para a maioria dos que se dedicam a isso, MORENO FECHA O CANGAÇO.


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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

EU E AURÉLIO

EU E AURÉLIO
(Clerisvaldo B. Chagas, 9 de setembro de 2010)
     Foi uma imensa honra, a presença e a palestra do professor Aurélio Buarque de Holanda Ferreira na Faculdade de Arapiraca. Após a palestra atendeu a quem o procurava com uma simplicidade peculiar dos grandes homens. Deixou-se fotografar com quem o procurou e saiu do prédio sem alarde assim como havia chegado.
     Muitos e muitos anos após aquele encontro fiquei aceso ao manusear um dicionário velho, escrito em papel jornal, numa escola do município de Santana do Ipanema. Que coisa impressionante aquele volume que se abria diante da minha sede. Finalmente eu encontrara um dicionário como sempre havia imaginado. Com algumas dúvidas e sem poder retornar à escola que era longe, procurei a biblioteca pública e encontrei a mesma obra. Parti, então, para encontrar o dicionário atualizado e à venda. Quando consegui encontrá-lo através de vendedores, o preço era exorbitante. Fui intercalando o tempo de procura e em cada botada o preço corria mais do que eu. Os anos se passaram e finalmente com a nova ortografia, resolvi reiniciar o movimento. Navegando na Internet descobri que a 4ª edição iria ser lançado em setembro já com a Nova Ortografia e também em versão eletrônica. Deixei passar dois ou três meses aguardando o resultado da pesquisa errada. O dicionário já havia sido lançado na primavera de 2009. Quando descobri meu erro, comecei (na linguagem do povo, endoidei) a pesquisar exaustivamente e descobri a editora herdeira dos seus direitos autorais, a edição lançada, a versão e tudo mais. Deixei escapar um longo suspiro de contentamento pelos seus 435 mil verbetes (meu Aurelinho era apenas de 30 mil).
     Ao saber que uma livraria em Maceió representava a editora do Paraná, parti para o ataque definitivo numa ansiedade medonha. Cheguei à livraria, no Bairro do Farol, já na hora de fechar o comércio. Estava ali. Assim que entrei, vi logo. Ele estava ali! Cheio de satisfação e muita alegria comprei o bichão e fiquei alisando o plástico da capa dura, sem acreditar que havia vencido a batalha da tantos anos. Uma pessoa da família acabava de adquirir um carro zero e nele fui conduzido até a livraria. Coloquei o volume no colo e disse como meu pai diria: “Seu carro zero não me bate o papo. Mas cuidem bem desse bebê aí no banco traseiro que um grande sonho acaba de ser realizado”. E como a versão eletrônica não pode ser copiada, colocamos o CD original em vários computadores da família, compensando imediatamente o seu valor monetário. Não, não senhor, não estou ganhando nada para fazer propaganda. Quem ama as letras por certo sentirá essas palavras. Montado em 435 mil verbetes, com as esporas da Nova Ortografia, fica mais seguro correr nas caatingas devolutas da Língua Portuguesa. Eu sabia que iria adquirir o Dicionário tão procurado. Requeri aposentadoria para os outros todos que tenho em casa. Agora é enfrentar a Maria Gramática, a Mulher de Pedra. Puxa! Finalmente juntos: o computador, EU E AURÉLIO.





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