domingo, 31 de julho de 2011

S.O.S. CANAPI

S.O.S. CANAPI
Clerisvaldo B. Chagas, 1º de agosto de 2011

          Mais uma vez o Sertão alagoano teve um excelente inverno. Bastante tempero nas chuvas que chegaram lembrando os tempos dos nossos pais: boa distribuição de chuvas e um frio que ressuscita a velha frase sertaneja: “Tá caindo gelo”. Isso faz lembrar a moda dos antigos bons invernos de Santana do Ipanema e região com o clímax na festa da padroeira. Surgiu a moda da “japona”, um bonito casaco, baseado nas japonas da Marinha que, tanto era elegante quanto matava a frieza pertinente desde os meados de maio aos meados de agosto. Os homens desfilavam entre o meio mundo de brinquedos que abrilhantavam o novenário da santa, muito bem protegidos, sim senhor. Era mais ou menos no tempo da camisa “Volta ao Mundo” que tanto sucesso masculino causou no Brasil e, particularmente, por aqui. Ah! E haja música no parque com Waldick Soriano, Silvinho, Ângela Maria e tantos outros cantores, interrompida pela moça que anunciava: (“Para o rapaz da japona azul” ou “Para a moça da flor no cabelo”, assina, você já sabe).
         Pois bem, esse ano, além do bom inverno, houve muita “folia” em Santana do Ipanema, meu amigo. Desde a “Festa da Juventude”, emendando com a de Senhora Santa Ana, com tantos eventos e bandas musicais famosas nas ruas que foi preciso ser bom maratonista para ser testemunha de tudo. O dinheiro que foi gasto não sabemos dizer, não senhor. Mais foi tanta nota de real correndo pela diversificação do comércio que muita gente ficou rica. O movimento pelas praças, avenidas, ruas centrais e periféricas, tinha carro igualmente a Avenida Fernandes Lima, em Maceió. Julho passa para agosto com um dia inteiro de chuva em Santana, dando adeus a grande época marcante dessa terra. Água, pasto, gado gordo, visita da presidenta a Alagoas; incentivo à cultura da mandioca e outras, liberação de verba para esticar o Canal do Sertão e, finalmente a possibilidade de espetar a bola de sopro da dívida alagoana. Você quer mais, ou está bom?
        Mesmo assim, nem tudo é alegria no semiárido. Com tantos festejos do céu e da terra, as reinvindicações do povo canapiense vão se aproximando da velhice. O Alto Sertão, rouco de gritar por décadas a fio, parte para novas ações que não sejam somente da velha garganta. Enquanto outras cidades daquela área ganharam asfalto estadual (que de certo modo desviou o movimento para o polo Santana) Canapi ficou de fora. Cortada pela BR-316, em matéria de estrada o trecho é somente buraco e lama. Sua economia fica comprometida em tudo enquanto contempla o progresso chegando a municípios circunvizinhos. O trecho entroncamento Carié ─ Inajá, é uma vergonha alagoana e nacional. Tem razão os nossos conterrâneos sertanejos em cobrar com várias ações continuadas. Estamos solidários à luta daquele simpático e bravo município para integrar a última cidade sertaneja aos benefícios do asfalto. E se a garganta não dá mais, reivindiquemos agora com foguetes. S.O.S. CANAPI.





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quinta-feira, 28 de julho de 2011

LAMPIÃO, A FESTA DOS MORTOS

LAMPIÃO, A FESTA DOS MORTOS
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de julho de 2011
Série cangaço Nº 05 – Final

           Consolidada a hecatombe de Angicos, as onze cabeças dos bandidos foram salgadas e colocadas em um saco, pendurado num caibro, para serem retiradas nos ombros do local até a margem do rio São Francisco. O soldado eliminado no combate, o ferido e os despojos, também foram transportados com dificuldades. Os soldados estavam sem comer a três dias, a não ser rapadura com farinha, segundo o comandante. (Os corpos seriam sepultados ali, sem condições, dias depois). Em canoa subiu o cortejo macabro até a cidade de Piranhas que ouviu o tiroteio da madrugada. Piranhas assustou-se logo cedo por que um tiro deixou todos em alerta. Fora um acidente, quando um cidadão disparou uma arma contra a esposa. Logo as volantes entraram triunfantes em Piranhas, comandante ensanguentado à frente, à moda cangaceira. Os soldados traziam pelas ruas as cabeças degoladas penduradas pelos cabelos. Todos se dirigiram à casa do tenente João Bezerra, impregnando o ambiente da residência de suor e sangue. Dona Cyra, esposa de Bezerra, estava apavorada por causa da filhinha de berço, logo transportada para outra residência. Os soldados pulavam, dançavam, jogavam perfumes apreendidos, uns nos outros e cantavam “Mulher Rendeira”, numa alegria se fim. A cidade inteira comemorava e atirava para cima, invadindo a casa do tenente para contemplar as cabeças que depois foram colocadas em latas de querosene, com álcool, e expostas organizadas como troféus nos degraus da Prefeitura (foto que ainda hoje corre mundo). Depois as cabeças foram transportadas para Santana do Ipanema, em caminhões levando a tropa, sendo apresentada antes em outros lugares do trajeto. (Obs. inúmeros detalhes foram omitidos no todo, ficando para os livros anunciados).
             Em Santana, a festa de posse do interventor Pedro Gaia, emendou com a chegada das cabeças. Houve feriado nas escolas, o comércio fechou, banda musical apareceu e um desfile dos soldados e comandantes enaltecia o feito pelas ruas da cidade. Entrevistas, discursos e bebidas assoberbaram em Santana do Ipanema. Os presos do cangaço de antes de Angicos, espiavam a folia pelas grades do quartel, como a ex-cangaceira Aristeia, mulher de Catingueira II. Santana do Ipanema, sede das operações contra o cangaço em Alagoas, com seu 2º Batalhão de Polícia, comandado pelo major José Lucena de Albuquerque Maranhão, recebeu de Maceió, um enviado para aplicar injeções de formol nas cabeças dos cabras abatidos em Angicos. As onze cabeças foram expostas do mesmo jeito de Piranhas, nos degraus da igrejinha/monumento de Nossa Senhora da Assunção, sobre uma toalha branca. Havia uma multidão enorme com gente até de outros estados brasileiros, inclusive fotógrafos e repórteres de revistas famosas do Brasil.
             As cabeças depois seguiram para Palmeira dos Índios, expostas como em Santana, Limoeiro de Anadia, Mosquito e São Miguel. (Temos detalhes). A cabeça de Lampião e Maria Bonita seguiram à frente para a capital e, as outras chegaram depois, de trem. Houve apresentação das cabeças e delírio coletivo em Maceió. O governo premiou a tropa em cinquenta contos no geral. Os soldados ganharam um conto de reis, cada, e os comandantes foram promovidos. Bezerra foi internado para retirar bala alojada na coxa esquerda, em cirurgia. Viajou ao Rio de Janeiro chamado por Getúlio Vargas, mas depois caiu no esquecimento. Notícias e fotos percorreram o Brasil e o mundo no dia em que Santana do Ipanema e Alagoas mostravam Lucena, Bezerra, Aniceto, Francisco Melo e povo no último evento de Virgulino: LAMPIÃO, A FESTA DOS MORTOS.

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