segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

OS SANTOS E OS MILAGRES

OS SANTOS E OS MILAGRES
Clerisvaldo B. Chagas, 6  de fevereiro de 2012.

          É sabido que uma coisa puxa outra. Contemplando o trabalho de reforma que está sendo realizado na Escola Estadual Helena Braga das Chagas, vamos compreendendo a necessidade de manutenção permanente desses estabelecimentos de Ensino. Antes havia profissionais nas escolas como carpinteiros, encanadores e eletricistas, que asseguravam nessas áreas o funcionamento físico das unidades. Com o tempo passando esperava-se um melhoramento extraordinário na organização das redes escolares. O que se vê, entretanto, é o abandono dentro de décadas e décadas na rolagem do entra governo, sai governo, quando a Educação continua sendo a cacetada da vez. Ali não vamos ter direito a nenhum tipo de construção, só reforma. Pelo menos uma sala para implantação de biblioteca, serventia de alunos e moradores em geral do Bairro São José, não será construída. Imaginem uma escola central e sem biblioteca! Pedreiros e serventes continuam amontoando ninhos de pardais, desobstruindo tubos, retelhando, trocando portas e janelas que já não fecham e nem abrem para nada. Um muro enorme da escola, que foi ao chão por duas vezes, não será rebocado. Foi feito na base do chapisco e de coisa sem dono que evitou alguém ir para cadeia.
          E a Escola Estadual Padre Francisco Correia, como anda, após a queda de parte da estrutura? Construída ainda na gestão do prefeito Joaquim Ferreira, cansada de pedir socorro, veio desabar uma parte na gestão atual, quase provocando uma tragédia. O seu futuro é incerto. Matam a tradição pelo descaso e acabam de matar pela ignorância e falta de compromisso com a sociedade. Fundado em momento tão difícil para Santana do Ipanema, o Grupo Escolar Padre Francisco Correia foi a primeira escola oficial que funcionou da quinta a oitava série naquele município. Situada em lugar nobre do Bairro Monumento, a citada escola faz parte da história de Santana, onde congregou as primeiras professoras vindas da capital para educar o Sertão. O seu título não poderia melhor ter sido registrado, pois o seu patrono, além de fundador da cidade, foi seu primeiro pároco, criou lei libertária para Santana e era considerado santo pelos inúmeros milagres que realizou e foram registrados.
          A crônica, às vezes, faz como cavalo sem cabresto que foge à direção imposta pelo cavaleiro. Puxada em direção contrária, ela não quis me obedecer, deixando o opúsculo do “santo padre Francisquinho” sobre a mesa, a olhar o rumo diferente da carreira. Santana vai se desmemoriando. Ruiu a casa do padre Bulhões, desabou a igrejinha de São João e agora se esvai o antigo grupo Correia para o esgoto e o lixão do município. O descaso com a história de Santana do Ipanema, após o “Prefeito Cultura” Hélio Cabral, caminha a passos largos, patrocinado pelo poder público. O vendaval na cultura tem sido tão forte que o título desse trabalho teve seu miolo desviado. Só apelando para OS SANTOS E OS MILAGRES.
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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O BEIJO DE MIGUEL

O BEIJO DE MIGUEL
Clerisvaldo B. Chagas, 3 de fevereiro de 2012

          Houve uma época em Santana do Ipanema em que a população estava incomodada. Misterioso personagem, logo ao anoitecer, andava fazendo medo aos passantes em alguns lugares ermos de Santana. Mas a figura também tinha predileção pelas imediações da prefeitura local. A cidade estava às escuras e logo os criativos atacados pelo bicho, passaram a chamá-lo “Zorro”. Quem perambulava pela noite, sempre receava um ataque do Zorro a qualquer momento em algum lugar, em alguma baixada, em alguma esquina. Em uma daquelas noites um boêmio chamado Miguel, cujo murro era considerado um coice de mula de tão potente, passava pela calçada da prefeitura quando a assombração se manifestou. O Zorro, dentro da murada, estirou a manzorra por entre as brechas do muro e puxou fortemente a camisa de Miguel. Este, rapidamente, segurou com ambas as mãos o braço do Zorro, querendo fazê-lo passar por inteiro para fora por aquela mesma brecha onde só cabia um braço. É verdade que o Zorro não passou na marra pela fresta, porém, nunca mais ninguém deu noticia da ameaça vagabunda do indivíduo. Relevante favor o boêmio Miguel prestava aos notívagos santanenses.
          Havia na cidade, uma doida alta, forte e risonha que bebia, fumava e soltava sempre seus gritos de paz e felicidade: “Viva os noivos, senhor!”. Certa feita, o mesmo Miguel do caso acima, retornava altas horas das farras da Rua Tertuliano Nepomuceno, quando se deparou com a maluca embriagada, dormindo na calçada do Mercado de Carne. Acendendo seus instintos em direção à mulher, colocou-a sobre os ombros e desceu pelo beco mais próximo, onde com ela teve relações sexuais. Ao terminar o ato, a doida, meio acordada, meio adormecida, perguntou-lhe: “Espere, e não vai me bejar, não?” Sem o beijo pretendido, o forte boêmio novamente colocou a maluca sobre os ombros e delicadamente, deixou-a no mesmo lugar onde a encontrara.
          Em muitas situações desse país, ficamos atarantados com a ganância e os escândalos envolvendo os grandes do governo. E nesses escândalos estão sempre as verbas do povo, arrancadas de nós pela força das artimanhas e conduzidas aos bolsos fundos dos tecidos modernos. Eles são os zorros de todas às noites, pesadelos das crianças, adultos e anciãos das escolas, das previdências, dos abrigos. Continuamos suas presas porque nos falta à força e a coragem de um novo “Miguel Coice de Mula”. Todos os dias eles estupram a sociedade, com a mesma calma e determinação do segundo Miguel; fazem de nós o corpo embriagado da maluca de “Viva os noivos, senhor!”. E nós, como a própria doida falou, com a vergonha queimando pela face, sequer perguntamos pelo BEIJO DE MIGUEL.



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