segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CIPÓS DE FERRO DO CANGAÇO



CIPÓS DE FERRO DO CANGAÇO
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de setembro de 2012.
Crônica Nº 866
Cangaço: grupo de Virgínio. (Foto: Wikimédia Commons).

O sertanejo comum ingressava no bando lampiônico por diversos motivos. Entre eles estavam à admiração romântica pela aventura, a perseguição policial, a vingança e vários outros. Entre esses motivos, destacamos dois: o convite ─ dividido em moderado e pressionado ─ e o brutal. O convite moderado era feito a alguém, quando o momento estava tranquilo no bando, em uma passagem, uma festa, um pouso, nas ocasiões de menos bebida e bom humor. A recusa, por alguma razão, não tinha consequência nenhuma. O convite pressionado acontecia quando era enxergado grande valor no convidado, muitas vezes pelo simples olhar avaliativo do cangaceiro. Recusado o convite, os do bando não se conformavam e ficavam pressionando onde reencontrasse a pessoa. O convidado dessa maneira tinha apenas três opções: mudar-se do sertão, ingressar nas forças policias ou partir com os bandidos. Caso não usasse uma delas, a morte era quase sempre questões de dias ou meses, dependendo da sorte. Já o convite brutal, acontecia mais quando o bando estava reduzido e precisava renovar as suas fileiras. Rapazes encontrados na caatinga, como vaqueiros, agricultores, boiadeiros, tiradores de mel, eram levados bruscamente de acordo com o que o povo chama de “ir na marra”.
Uma vez dentro do bando, muito difícil era abandoná-lo. Logo nos primeiros dias, Lampião ou os chefes de subgrupos jogavam o recém-chegado numa armadilha. Teria que aguentar com bravura um fogo cerrado e também matar friamente algum prisioneiro. Refugar seria morrer em lugar da vítima. Sendo aprovado nos testes, a notícia chegaria aos ouvidos do povo e da polícia, não deixando a alternativa de fuga do bando, pois assim o indivíduo já arranjara inimigo lá fora. Todos os assassinos dizem que o pior assassinato é o primeiro. Daí em diante, apaga-se a consciência de matar e vicia. Como deixar o bando marcado pela sociedade? Desertando, haveria o perigo de morrer lá fora pelos familiares das vítimas e pela polícia. Assim, nesse emaranhado de cipós de ferro, continuava o novato cangaceiro sua vida nômade, sem perspectiva alguma de liberdade. Não foi somente o cabra, o cangaceiro anônimo que enfrentou essa situação. Muita gente que chegou depois ao estado-maior também iniciou assim.
As quadrilhas de traficantes usam artifícios parecidos. Não é fácil para o sujeito deixar a facção aonde se meteu. E as drogas vão deixando os seus rastros de sangue como as hostes cangaceiras. Hoje como ontem, CIPÓS DE FERRO DO CANGAÇO.

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domingo, 16 de setembro de 2012

TATU PELINTRA



TATU PELINTRA
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de setembro de 2012.
Crônica Nº 865

Quem pesquisa sobre cangaço, sabe muito bem que um cidadão intelectual escrevia versos, como se fosse um cangaceiro denominado Zabelê. Uma das estrofes, esfacelada, é mais ou menos assim:

“O tatu morre cavando
  A cobra véve enroscada
 (...) A coruja dando pios
      (...) Os macaco se coçando
    Na curva da encruzilhada”.

A sequência não é essa, mas não importa no momento. O que queremos mesmo dizer é que o tatu não faz buraco. Estava enganado o poeta e o povo quando afirma esse ditado popular: “Quem nasceu para tatu morre cavando”. O nativo do sertão nordestino sabe distinguir muito bem um tatu de um peba sem esse negócio de tatupeba. Ora! Peba é peba! Tatu é tatu! Um nosso ex-fiel empregado, natural da Ribeira do Capiá, Alagoas, nascido e criado nas caatingas, dizia que tatu não cava, quem cava é o peba. Certa vez fizemos uma pesquisa entre caçadores de várias regiões do Brasil. Todos disseram que a melhor caça era o tatu. Ser o campeão do melhor sabor foi um dos motivos que levou o bicho à extinção. O tatu é mais estreito, escuro e vertical. O peba é galego e chato, sua carne só é boa com pimenta, acompanhada de aguardente. Ah Marinês! “Seu Malaquias preparou/ cinco pebas na pimenta...”.
Bola vai e bola vem, escolheram o tatu-bola para mascote do Brasil na Copa. O cabra perguntou na televisão como seria o nome do bicho. Ora, respondemos como o menino perguntado sobre o que queria ser quando crescesse e, ele respondeu: grande! O nome do danado é tatu, rapaz, para que mais apelido! Bem, o símbolo brasileiro na copa, para nós seria a onça pintada, pelo menos em termos de animais, ninguém desbanca a força máxima brasileira. Fiquei meio cabreiro com a escolha do tatu, bicho feio da “goimara”! Acontece, porém, que tudo no desenho fica bonito. Deram uma caprichada da gota serena no tatuzinho que o dasipodídeo, de repente pareceu melhor do que o Zé Carioca. Ficamos contentes, sim, com o amigo frajola que veio até nós, cheio de alegria e cumplicidade. Fazer o quê?! Deixe Zé Tatu se engrandecer! Quem sabe se o fraco, gelado e indeciso técnico da Seleção Brasileira não o convoca para resolver os seus problemas de gols. Olhando de perto, se o Ganso está em alta e o Pato está melhorando, por que não completar o trio com o TATU PELINTRA?
·         Qualquer site ou blog (menos pornografia) pode reproduzir nossas crônicas, das segundas às sextas. É bastante comunicar ao autor através do e-mail: “Clerisvaldobchagas@hotmail.com” (para acompanhamento): e não deixar de utilizar as normas, assim como o blog do Mendesemendes e o sednemmendes.





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