CIPÓS DE FERRO DO CANGAÇO
Clerisvaldo B.
Chagas, 18 de setembro de 2012.
Crônica
Nº 866
O sertanejo comum ingressava no bando lampiônico por
diversos motivos. Entre eles estavam à admiração romântica pela aventura, a
perseguição policial, a vingança e vários outros. Entre esses motivos,
destacamos dois: o convite ─ dividido em moderado e pressionado ─ e o brutal. O
convite moderado era feito a alguém, quando o momento estava tranquilo no
bando, em uma passagem, uma festa, um pouso, nas ocasiões de menos bebida e bom
humor. A recusa, por alguma razão, não tinha consequência nenhuma. O convite
pressionado acontecia quando era enxergado grande valor no convidado, muitas
vezes pelo simples olhar avaliativo do cangaceiro. Recusado o convite, os do
bando não se conformavam e ficavam pressionando onde reencontrasse a pessoa. O
convidado dessa maneira tinha apenas três opções: mudar-se do sertão, ingressar
nas forças policias ou partir com os bandidos. Caso não usasse uma delas, a
morte era quase sempre questões de dias ou meses, dependendo da sorte. Já o
convite brutal, acontecia mais quando o bando estava reduzido e precisava
renovar as suas fileiras. Rapazes encontrados na caatinga, como vaqueiros,
agricultores, boiadeiros, tiradores de mel, eram levados bruscamente de acordo
com o que o povo chama de “ir na marra”.
Uma vez dentro do bando, muito difícil era
abandoná-lo. Logo nos primeiros dias, Lampião ou os chefes de subgrupos jogavam o
recém-chegado numa armadilha. Teria que aguentar com bravura um fogo cerrado e
também matar friamente algum prisioneiro. Refugar seria morrer em lugar da vítima.
Sendo aprovado nos testes, a notícia chegaria aos ouvidos do povo e da polícia,
não deixando a alternativa de fuga do bando, pois assim o indivíduo já arranjara
inimigo lá fora. Todos os assassinos dizem que o pior assassinato é o primeiro.
Daí em diante, apaga-se a consciência de matar e vicia. Como deixar o bando
marcado pela sociedade? Desertando, haveria o perigo de morrer lá fora pelos
familiares das vítimas e pela polícia. Assim, nesse emaranhado de cipós de
ferro, continuava o novato cangaceiro sua vida nômade, sem perspectiva alguma
de liberdade. Não foi somente o cabra, o cangaceiro anônimo que enfrentou essa
situação. Muita gente que chegou depois ao estado-maior também iniciou assim.
As quadrilhas de traficantes usam artifícios parecidos.
Não é fácil para o sujeito deixar a facção aonde se meteu. E as drogas vão
deixando os seus rastros de sangue como as hostes cangaceiras. Hoje como ontem, CIPÓS DE FERRO DO CANGAÇO.
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