terça-feira, 4 de setembro de 2012

CHORANDO NO VELÓRIO


CHORANDO NO VELÓRIO
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de setembro de 2012.
Crônica Nº 857

SAL GROSSO
Na Santana dos mais velhos, contou-nos o saudoso Manoel de Toinho ─ mestre de obras da prefeitura de Santana do Ipanema, Alagoas ─ o seguinte caso: Muita gente ilustre de Santana era chegada às farras aos sons dos grandes violonistas da época. Certa feita saiu um grupo desses boêmios para a vizinha cidade de Maravilha, localizada aos pés da serra da Caiçara, uma das maiores do estado. Ali no Alto Sertão, os farristas iam à busca de buchadas de bode e das noites enluaradas da redondeza. No final da farra que começou pelo dia e varava a noite, terminaram em um velório. A dona da casa chorava copiosamente ao lado do caixão, vizinhos compenetrados e os bêbedos farristas chegando. Adentraram a casa, espiaram o morto, e perscrutaram os arredores em busca de cerveja. Enquanto a pobre senhora não parava de chorar, os boêmios sentiam-se como donos provisórios da residência. Nesse momento, segundo Manoel de Toinho, o seu companheiro Pedro Bulhões, tabelião em Santana do Ipanema, muito chegado a piadas, aproximou-se do ataúde e falou para a mulher que chorava, filha do morto: “Se a senhora não quer enterrá-lo, salgue esse peste!”.
O sujeito trabalhador quando sente o gostinho da política não quer mais deixar a mamadeira. Procura fazer de um cargo público um exercício profissional cuja coroa vem recheada de dinheiro e poder. Quando lhe cai nas mãos uma prefeitura, aí sim, é a própria felicidade, a delícia de todos os deuses. Não se gasta mais nem sequer um centavo com coisas pessoais ou domésticas. Tudo a viúva assume num saque sem fim ao dinheiro do povo. O tempo vai passando o cabra não quer largar o osso e por ele mata e morre para não perder as bajulações, o mando e a verba farta como bênçãos divinais. De prefeito a prefeito de novo; de prefeito a deputado; de deputado a prefeito; e, quando já velho, descarnando para cair os dentes ainda pensa em ser vereador. E vai à luta, nem que seja preciso vender à velha e os netos para alcançar outra vez o paraíso. Trabalho? Nem pensar! Isso é coisa para cabras bestas como os outros mortais. Eu conheço gente assim. O leitor deve conhecer gente assim. Nesta campanha política vamos apontando pessoas assim.
A Justiça vem, joga terra nas suas pretensões, o viciado alonga o espinhaço como gato preto e bufa arreliado pela má notícia. Para ele as portas se fecharam. Não conseguiu salgar o tempo e continuará CHORANDO NO VELÓRIO.

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