segunda-feira, 24 de setembro de 2012

ZÉ BOCÃO



ZÉ BOCÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de setembro de 2012.
Crônica Nº 871

Esse não é o Zé Bocão. Foto: (hypescience.com/).
Bem que a história das eleições no Brasil daria um rosário humorístico entre eleitor e candidato. O vício arraigado da compra de votos teve início com a força dos coronéis. Mesmo com o aperfeiçoamento das leis sobre essa prática, a troca de favores continua bastante viva, em território nacional. Não é somente nos pequenos municípios do interior, mas a praga também atinge grandes capitais, chegando aos mangues, favelas e palafitas. Os pedidos de favores ou objetos em troca de votos vão desde coisas simples a propostas inusitadas. Existe ainda o eterno candidato a vereador. Aquele que tem entre sessenta a cem votos e que todo ano vai a busca de seus 5.000 reais do candidato a prefeito. Viciou e tornou-se profissional em embolsar o certo em ano eleitoral. O alto índice de analfabetos faz a festa dos compradores de voto. A Justiça mesmo reconhece a praga como difícil de ser combatida, por causa do acordo entre as partes interessadas. Quando o juiz é fraco ou parcial, cédulas novinhas são distribuídas em vários pontos da cidade a toda hora do dia. Quando o juiz é honesto e atuante, o câmbio negro é feito às madrugadas nas diversas encruzilhadas da zona rural.
É do comércio clandestino do voto que sai o pidão.  Vai à procura de todos os candidatos. É especialista em pedir. Alguns ficam até marcados pelo político e sua equipe, como no caso do Zé Bocão. Não escolhe lugar para fazer o seu patim. O assessor logo cochicha no ouvido do candidato quando ele se aproxima: “Lá vem o Zé Bocão”. Ele chega radiante, sorridente e vai logo dizendo: “Doutor, vai me deixar votar no senhor com esse sapato velho?”. O que o candidato tentar rebater o golpe mandando-o resolver o problema em casa (casa do político), onde a mulher já está prevenida. O sujeito vai mesmo à casa do homem. Em lá chegando, pede logo para a senhora “descolar” um par de sapatos novo. A mulher, em alerta, responde que só tem sapatos de números altos. O ladino Zé Bocão não se dá por vencido: “Tem nada não, dona, se ele for grande eu encho com papel, se for pequeno eu corto o bico”. E assim, no jogo da rasteira, ninguém consegue escapar de Zé Bocão.
O elemento acima não está somente entre os analfabetos. Muitos indivíduos que ocupam bons lugares na sociedade, são escravos do ato repugnante de pedir. Uns, como tivemos ocasião de observar de perto, pedem até construção de banheiro com equipamento e tudo. Geralmente é ladrão disputando com ladrão esticando sabedoria como João Grilo e Cancão de Fogo. Sei que o amigo nesse momento descobriu na sua mente um bem conhecido ZÉ BOCÃO.

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