terça-feira, 7 de julho de 2015

O TATU QUE VIROU ESTRELA



O TATU QUE VIROU ESTRELA
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de julho de 2015
Crônica Nº 1.445


Foto: (tribunahoje.com).
A poeira amarelada da rodagem impregnavam as fachadas de oito ou dez casas marginais. Passageiros, do alto da carga de caminhões, insultavam os moradores: “Aqui é o Bola, rebanho de peste!” Habitantes do lugar queriam torcer o pescoço dos insultantes, mas as acelerações propositais dos motoristas, não permitiam a decapitação enraivecida. Estamos no minúsculo povoado Bola, região agreste de Palmeira dos Índios. Não sabíamos por que seus moradores tinham tanta raiva em ser apontados como habitantes do Bola.
No século XIX havia muitos animais selvagens na região, entre eles o famoso tatu-bola. Naturalmente a referência ao lugar era “o local do tatu-bola”, abreviado simplesmente para “O Bola”. Por isso ou por aquilo seus moradores detestavam o nome e as provocações dos forasteiros, isentas de punições.
O povoado fora fundado pela família Gonzaga. Sua primeira missa foi celebrada pelo padre Ludgero, vigário da paróquia de Palmeira dos Índios, em 1952. Foi ele quem levou para o povoado a primeira escola. Com o progresso rápido do lugar, o próprio Ludgero sugeriu que o nome Bola fosse substituído pela denominação de Estrela.
Estrela criou sua feira-livre em 1959. Em outubro de 1989, o povoado recebeu o nome de Estrela de Alagoas, acontecendo sua emancipação política em 5 de outubro de 1992.
Hoje o Bola não mais existe, a não ser na boca de algum provocador interessado na reação.
Cortada ao meio pela BR-316, a nova cidade alagoana possui mais de 16.000 habitantes. Seus arredores são bastante arborizados, a cidade possui sua feira-livre e parece bastante limpa aos passantes.
Com seus festejos anuais e folclore em dia, nada deve aos outros municípios mais antigos, sendo mais um oásis no trajeto Sertão – Maceió para quem trafega pela espinha dorsal do estado, a BR-316, asfaltada e em boas condições de tráfego.
A propósito, é proibido matar tatu-bola também nas estrelas.


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segunda-feira, 6 de julho de 2015

A AGONIA DOS CASARÕES



A AGONIA DOS CASARÕES
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de julho de 2015
Crônica Nº 1.444
(Para o escritor Fábio Campos)
Foto (Repórter Alagoas).
Certa feita, na capital pernambucana, ficamos impressionados com inúmeros casarões antigos, no centro. Muitos querendo apenas um empurrão para o fim da agonia. Lembramos imediatamente na nossa Maceió que estava na mesma situação do Recife.
O tempo faustoso, início do século XX, deixou apenas a lembrança nos potentes casarões, escorados hoje na bengala do enjoo. As antigas famílias ricas de comendadores, barões e tantos outros bem sucedidos nos negócios, desapareceram, faliram, modernizaram-se, abandonando bangalôs, palacetes, armazéns, a mercê das intempéries.
Os estados, repletos de patrimônios físicos tombados, não encontram mais dinheiro para nada. Caem de velhice e abandono, igrejas, trapiches, mansões, cadeias e museus. Tombam no meio da rua sem vida como o mendigo esquecido encontrado morto sob a marquise.
A queda do teto da antiga Secretaria Estadual de Educação é um exemplo. Bem ali, em pleno comércio da capital, abençoado o prédio pela santidade defronte de outro patrimônio aceso, a conhecidíssima igreja de São Benedito. Templo onde faleceu repentinamente o ex-governador, ex-interventor de Santana do Ipanema, aquele que elevou a vila à cidade, padre Capitulino.
Em muitos lugares da capital, casarões e mesmo prédios pequenos, estreitos, antes valorizados por seus pontos estratégicos, como os da ladeira do Brito, causam desgosto até no olhar do historiador, do curioso, do saudosista.  Maltratados, sofridos, são apenas alugados por qualquer coisa, cujo zelo da fachada e do interior está longe dali. O tempo devora prédio, devora gente, tudo devora.
Esfuma-se o dinheiro público, vai-se a verba particular, gemem as cumeeiras de cedro, as travas de baraúnas, as portas de nogueira. Ficam os prédios corcundas espiando as ruas. Talvez esperançosos pela volta do bonde, do chapéu panamá, do vestido europeu, do perfume francês, quem sabe, até de um seresteiro à antiga para a companhia de uma noite só.


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