sábado, 20 de maio de 2017

O MUSEU DA MENTIRA



O MUSEU DA MENTIRA
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de maio de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.673

Fundos do matadouro de Santana. Foto: (Gov.).
Fomos em comissão até o prefeito anterior com a missão mais útil possível ao nosso município. Traçado meu projeto triplo e aprovado pelos então companheiros da AGRIPA – Associação Guardiões do Rio Ipanema ─ restava apresentá-lo à municipalidade.
As três faces do plano eram as seguintes: primeiro, criar “O Dia do Rio Ipanema”, para lembrá-lo, protegê-lo e comemorarmos anualmente seu aniversário. Segundo, Como o matadouro de bovinos fora condenado, solicitamos do prefeito o prédio para transformá-lo em ”Memorial do Rio Ipanema”. Terceiro ─ ainda no terreno do matadouro municipal ─ as instalações de uma “Estação Meteorológica” que muito iria contribuir para a Agropecuária sertaneja e para inúmeras pesquisas no campo da Educação.
A receptividade às nossas ideias foi ótima. Tudo prometido. A primeira face do plano achou um defensor mais adiantado na Câmara de Vereadores Tácio Chagas Duarte e tudo correu normal, sendo de fato criado “O Dia do Rio Ipanema”. Essa data vem sendo comemorada pela AGRIPA ─ mesmo diante da frieza da prefeitura ─ com tradicional corrida ciclística durante à tarde e movimentação noturna com artistas da terra.
A segunda e a terceira face do projeto foram completamente abandonadas pelo prefeito anterior. Nunca mais o homem falou no assunto. E como a própria cidade ficou entregue à sujeira como em tempos de guerra, não havia mais clima para nada.
O prédio condenado do Matadouro Municipal Otacílio Bezerra continua sendo cartão postal para ratos e urubus. Antes já haviam até retirado o nome do homenageado ex-volante, um dos heróis de Angicos que deram cabo do famigerado Lampião.
Perdeu aquele homem como prefeito, a oportunidade de ter tido realizado os pedidos acima que por certo hoje estariam sendo pontos de visitas e estudos de uma região inteira. Perdeu o município sem opção quatro anos de vida útil para o seu desenvolvimento.
Será que um dia teremos um gestor à altura da terra de Senhora Santa Ana?


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terça-feira, 16 de maio de 2017

OS PASTORES MILENARES



Os PASTORES MILENARES
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de maio de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.672
 
Foto: (Sertanejo baiano).
Mais uma vez o Globo Rural assegura a qualidade das suas edições. Muito instrutiva, para quem não conhece de perto, a reportagem sobre o pastoreio milenar. Uma comparação entre a forma de vigiar o gado nos Andes bolivianos e no sertão nordestino.
O Nordeste desenvolveu muito no criatório caprino e ovino, não se pode fugir a essa realidade. Entretanto, a prática milenar do pastoreio pela sobrevivência continua em lugares difíceis. Acontece o pastoreio de bovinos, ovinos e caprinos juntos ou separados. No caso dos caprinos quase sempre são encontradas umas poucas cabeças de ovelhas misturadas aos bodes. Do pastoreio caprino em Alagoas se diz: “pastorar as cabras” ou “tocaiar as cabras” que vem ser a mesma coisa.
A distância da casa de morada para o lugar do pasto agreste varia entre 100 e 1.000 metros de distância, podendo chegar aos três quilômetros. Tanto o homem quanto a mulher estão naturalmente aptos para esse papel que também envolve adolescentes e até crianças. Tange-se o rebanho caprino para o lugar desejado ou seguindo à frente como guia pronunciando palavras de chamamento ou seguindo atrás do rebanho, sempre a pé, soltando pequenos assovios e palavras de ordem costumeiras.
No local escolhido o pastor ou a pastora deixa o rebanho à vontade, procura um ponto estratégico que lhe dê um bom domínio da paisagem e tenha proteção de sombra.
A arma usada invariavelmente é uma vara a guisa de cajado, peteca e pedra. Os cuidados maiores estão com as cobras, carcarás e cachorros estranhos viciados em “pegar ovelhas”. As cobras estão nos pedregulhos ou passeando em caçadas. Os carcarás atacam os animais mais novos quando estão famintos. Os cachorros viciados em matar criações não param o vício senão com a morte.
Com sua marmita improvisada o vigia do rebanho é um solitário com tempo de sobra para pensar na vida. Sempre à tardinha conduz os animais de volta colocando-os em cercado de varas com a linguagem: “enchiqueirar as cabras”.
Em todos os estados nordestinos nos lugares vistos acima o procedimento é este. Pode, todavia, haver o regionalismo estado a estado onde palavras diferentes possuem o mesmo sentido.
E como mostrou a reportagem, é sim ainda a perpetuação do pastoreio dos templos bíblicos, nada mudou nesse mundo encantado e rude da Mãe de Deus.


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