quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

PAGINANDO OS CARNAVAIS


PAGINANDO OS CARNAVAIS
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de fevereiro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.841

BACALHAU DO BATATA. FOTO: (G1).
Siloé Tavares – o deputado estadual santanense – estivera no comando do combate violento do Impeachment do governador Muniz Falcão.  Mudando da violência para cena doce, o deputado compadre de meu pai, construiu com festas todos os dias, a segunda igrejinha do serrote do Cruzeiro. (O boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema). Não era de se esperar que um homem sério e rouco fosse capaz de brincar o Carnaval. Mas estava ali no meio da rua para quem quisesse ver. Siloé e seus amigos foliões fundaram o “Bloco do Bacalhau”. A turma tinha um estandarte onde um bacalhau centralizava ladeado por recipientes de vinagre e azeite. E se havia mais de uma estrofe na música do bloco, não foi registrada. Mas o mote de guerra era repetido infinitas vezes:

“Olha o bacalhau
Pra nós é um colosso
Azeite com vinagre
Salgado ou insosso...”

Este conjunto de folia, anos 60, foi apenas mais um dos tantos e tantos blocos carnavalescos da minha terra, descritos desde a década de 1920.    Quando o bloco era organizado, listava casa de pessoas influentes, para visitá-las durante o trajeto das ruas. Essas pessoas preveniam-se e aguardavam a passagem do bloco com espaço, bebidas e tira-gosto. Antes dos anos 20, os foliões costumavam invadir o sobrado do coronel Manoel Rodrigues da Rocha e dançavam no salão principal do casarão. Depois, a casa do padre Bulhões também era muito visitada onde o tira-gosto era pão de ló.
Os carnavais, tanto no interior do Brasil, quanto nas capitais, ora se apagam, ora se acendem. Mas tanto os fracos quanto os fortes movimentos de Momo, trazem suas histórias coloridas como suas roupas e estandartes. Quem gosta da folia, vai recordando suas aventuras repetidas a cada mês de fevereiro, ocupando a mente com suas fantasias. Em Santana do Ipanema, cada um que conte as piruetas e os amores dos antigos carnavais, aumentando aqui, esticando mais ali, na ressurreição de foliões como Seu Carola (ô), Silóe, Nozinho (ô), Lucena, Chico Paes, Agenor e muitos outros que ficaram famosos na cidade. Sei lá...

“Olha o bacalhau
Pra nós é um colosso
Azeite com vinagre
Salgado ou insosso...”
  


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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

NO TEMPO DOS LAMBE-LAMBES


NO TEMPO DOS LAMBE-LAMBES
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de fevereiro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.840

LAMBE-LAMBES. FOTO: (JORNAL LANCE).
Como os mais antigos fotógrafos profissionais alcançados por nós, estavam Seu Antônio e Seu Zezinho. Seu Antônio atuava na calçada alta – logo no início da Ponte do Padre. Depois se mudou para a Rua Coronel Lucena, entre os dois becos de acesso à Rua Ministro José Américo. Era magro, barba por fazer, calado e fumante. Seu estabelecimento tinha o nome de “Foto Santo Antônio”. Seu Zezinho trabalhava na Rua Coronel Lucena (defronte a antiga Praça Emílio de Maia) depois migrou para a Rua Benedito Melo (Rua Nova) parte de cima, perto do declive de acesso ao Bairro São Pedro. Morava no próprio lugar de trabalho, era gordinho, branco e ansioso. Ali funcionava o “Foto Fiel”.
A produção de ambos era mais voltada para o social, principalmente para documentos 3x4 e fotos maiores para lembrança. Afora isso, quando convidados registravam eventos como inaugurações, batizados, casórios, formaturas. Dizem que Seu Zezinho tirou várias fotos das cabeças dos cangaceiros mortos em Angicos e apresentadas em praça pública de Santana do Ipanema.
Não havia a percepção de fotografar inúmeras ruas e prédios públicos para engajá-las à História. Não havia percepção nem interesse, além do material fotográfico raro e caro.
Já os fotógrafos denominados lambe-lambes, atuavam na frente da Matriz de Senhora Santa Ana. Como os outros dois, limitavam-se aos 3x4 dos matutos da feira, das suas poses nos altares, de casamentos e batizados. Nada de registrarem em geral para a História, pois eles representavam a própria história presente.
No dia em que chegou um ditador abusado, meteu grades defronte a Matriz, expulsando os tradicionais fotógrafos do povo. Daí em diante, os lambe-lambes ficaram desarvorados. Nem na frente da Igreja e nem mais em lugar algum. A prepotência  havia dado o golpe de misericórdia numa riqueza cultural brilhante, prestativa e indefesa.
Enquanto o Papa anda com flores nas mãos, outros andam com relhos de couro cru. Droga de tanto ódio!
Dizem os espíritas que esses são os que reencarnam na marra.
Os fotógrafos ou retratistas hoje são raros e estão em cidades como Recife e Juazeiro do Norte, misturados aos romeiros e sobrevivendo como podem.                           


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