segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

FAUNA RURAL NA CIDADE


FAUNA RURAL NA CIDADE
Clerisvaldo B. Chagas, 4 de fevereiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.053

ARAÇARI. (FOTO: TV GAZETA/DIVULGAÇÃO).
Foi destaque no estado, a notícia sobre a presença de aves estranhas na Praça Lucena Maranhão, Bairro do Bebedouro, em Maceió. Logo o casal foi identificado como Araçari-de-bico-branco, também conhecido como Tucano-de-cinta. De fato o bico e o tamanho das aves chamaram a atenção dos transeuntes. Estava o casal formando sua família de quatro filhotes num oco de amendoeira. O IMA  (Instituto do Meio Ambiente tomou conta do caso em favor da proteção e bem-estar das aves originárias da Mata Atlântica. Aqui em outra região de Maceió, acordo sempre com o canto do Bem-te-vi que possui ninho num alto poste de luz. Pela tarde são os pássaros Sibites que complementam os ruídos dos automóveis, com um canto fino e farfalhado, além do Bem-te-vi. Um pouco acima, casal de rolinha faz ninho e frequenta com mansidão o jardim de certa residência.
Em Santana do Ipanema, protegemos na Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas, o ninho de um beija-flor que produziu dois filhotes. Ninho pequeno, bem feito, confortável que continua no mesmo lugar após esvaziado. Mas também um casal de rolinhas ali faz sua moradia sem sofrer qualquer tipo de ataque. O bem-te-vi frequenta bem a área e, ultimamente tem aparecido um casal de aves escuras e grandes que ficam brincando nos postes mais altos da minha rua. Surge apenas no início da manhã e ainda não consegui identificá-lo.
As ruas arborizadas e as fruteiras dos quintais têm atraídos os mais diversos tipos de pássaros para a zona urbana. Com o desmatamento desenfreado do seu habitat, esses animais vão migrando para as cidades e se adaptando aos movimentos de homens e máquinas. A comida fácil nos lixos, nas ruas e em todos os lugares, facilita a vida desses pequenos que vêm colorir as urbes com seus cantos e suas cores. O caso dos tucanos em Maceió, só chamou atenção pelo colorido forte, tamanho e bico. Mas vários pássaros circulam pela cidade de Maceió e que, para muita gente, são invisíveis pela preocupação de cada dia.
Não conheço nenhum levantamento profissional sobre essas aves selvagens que frequentam as cidades.









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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

EU VI OS PEDAÇOS DE LAMPIÃO



EU VI OS PEDAÇOS DE LAMPIÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 1o de fevereiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.052

     Três ou quatro dias após a remessa das cabeças para Maceió, chegava a Santana uma caravana da Faculdade de Direito do Recife, composta dos acadêmicos Alfredo Pessoa de Lima, Haroldo Melo, Décio de Souza Valença, Elísio Caribé, Plinio de Souza e Wandnkolk Wanderley, todos em excursão e desejando ir diretamente a Angicos.
     Coincidiu que estavam chegando notícias de que os abutres (urubus) viviam sobrevoando o local de combate, sinal de que os corpos não haviam sido bem sepultados.
     O Tenente-Coronel Lucena resolveu então formar uma caravana com os acadêmicos e me disse que eu teria de acompanhá-los, menos  como sargento do Batalhão, do que como correspondente do Jornal de Alagoas. Partimos, então para Angicos no dia 7 de agosto – (‘O Jornal nos Municípios’, Jornal de Alagoas de 18.8.38).
     Com a chegada dos acadêmicos do Recife, tivemos de ir com eles a Angicos, local do combate, lá sepultar os corpos deixados à toa. Encontramo-los já meio ressecados, amarelecidos, a pele agarrada no osso como se a carne houvesse fugido. Já não tinham pelos e era difícil a identificação. À vista daqueles, em plena caatinga, o acadêmico Alfredo Pessoa fez um discurso capaz de comover até mocós e preás que andassem por ali. E só então tive uma pequena ideia da atrocidade da decapitação. Um corpo sem cabeça, onze corpos sem cabeça e o discurso de Pessoa: que coisa de arrepiar! (FRUTA DE PALMA, 168).
     Na realidade os corpos não haviam sido sepultados. Ficaram ali mesmo no leito do córrego, cheio de pedregulho. Amontoado os onze, a tropa havia simplesmente feito um montão de pedras por cima. Além de ser difícil cavar sepulturas ali, a gana de Bezerra e seus comandados pelos troféus dos cangaceiros lhes havia retirado todo o restinho de senso humano que possuíssem.
     Ficamos ali quase um meio dia, a cavar uma vala comum no mesmo local, pois não havia condições de conduzir aqueles pedaços de gente para parte alguma fora do córrego.
     O célebre coiteiro Pedro Cândido era integrante da Caravana e, além de nos descrever as principais fases do combate que ele engendrara, mostrou-nos o corpo de Lampião, da mesma forma identificado por três ou quatro pessoas que integravam a caravana e que também conheciam detalhes físicos do Rei do Cangaço.
     Se não foi a única (e não foi), foi uma das poucas vezes em que observei  emoções no rosto do Tenente-Coronel Lucena: ao ouvir o discurso do acadêmico, encarando os pedaços de Lampião. (...).

(FRISOS NOSSOS)
Extraído do livro:
CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012. Págs. 421-423.

                                                                                                                  

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