segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

LAMPIÃO E SEUS DEMÔNIOS


LAMPIÃO E SEUS DEMÔNIOS
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.226


No auge da sua carreira criminosa, Lampião, desapontado com o engodo militar em Juazeiro do Norte, voltou furioso a Pernambuco e penetrou em Alagoas. Saiu fazendo suas estripulias no Alto Sertão alagoano dirigindo-se à região de Santana do Ipanema, no comando da caterva de 102 cangaceiros. Os avisos chegavam através de vaqueiros que adiantavam as notícias e por famílias rurais em fuga. Certo dia apareceu na urbe o vaqueiro Catingueira montado numa égua em osso, paletó sem camisa, chapéu de couro repuxado para trás espalhando o medo: “Eu estava dentro do mato quando passou Virgulino e uma legião de demônios; ou vem para Santana ou para Olho d’Água das Flores”. A notícia brusca agitou a cidade.
Santana do Ipanema não estava preparada para rechaçar tamanha ameaça. O prefeito estava doente e uma esquiva policial não chegava a nada. Foi aí que um grupo de homens resolutos, resolveu tomar a iniciativa. Foi convocado o Tiro-de-Guerra com 25 atiradores; vários policiais e civis. O próprio padre Bulhões requisitou bastantes rifles da população e barricadas foram feitas na Rua da Poeira, entrada oeste da cidade. 1926. O inverno gelado na região não arrefecia os futuros combatentes. Anoiteceu, mas o frio não afastou os homens da trincheira durante a noite inteira. O dia amanheceu com o Sol dourando as montanhas e a fome bateu.   Alguém foi à padaria e abasteceu os convocados com pães e bolachas. Nada de Lampião.
Enquanto isso algumas famílias se retiraram rumo a Palmeira dos Índios, no Agreste. Entre elas, o menino Breno Accioly, futuro contista brasileiro (atualmente a Biblioteca Pública leva o seu nome). Ao restante da população, somente restava aguardar o combate. Entretanto, Lampião, guiado por Gato Bravo – cangaceiro santanense – preferiu assaltar a zona rural e rumar para o distrito de Olho d’Água das Flores, onde permaneceu o dia como senhor da situação. Apesar dos absurdos praticados, não morreu ninguém em Olho d’Água. Mas, no dia seguinte, o bandido assassinou um cidadão no povoado Caboclo.
Bem, passado o susto em Santana do Ipanema, o povo voltou a sorrir sem o resultado do jogo (tiroteio).
O batalhão de polícia para combater os meliantes, só chegou ao Sertão em 1936, dez anos após o caso.
Dois anos depois, 1938, aí sim, Lampião entrava em Santana do Ipanema com Maria Bonita e mais nove demônios, mas só as cabeças.


                                                                                        

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domingo, 8 de dezembro de 2019

BRINCOS NOVOS NA PRINCESA



 BRINCOS NOVOS NA PRINCESA
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.225

AÇUDE DO GOITI. (FOTO: B. CHAGAS/REP. A GEOGRAFIA DE ALAGOAS).
Mulher é sempre um ser muito vaidoso. Brincos, batons e outros babados fazem parte do ego e dos atrativos que conquistam os homens. Bem assim, ornamentos eficazes não podem ficar indiferentes nas cidades adormecidas.  Assim, além de tantas obras realizadas, Arapiraca, Agreste Alagoano, transformou água em vinho com o tal falado Lago do Perucaba. Beleza e toque futurista ganharam espaço na Capital do Agreste. Em Santana do Ipanema ainda há espaço para uma transformação semelhante. Trata-se do açude do Bode, na periferia, adormecido desde que chegou água encanada na urbe. Uma transformação ali traria um cenário de proporção incrível e passaria a serem os mimos ao filho caçula da Rainha do Sertão. Mesmo assim, o espaço Cônego Bulhões, corresponde de outra forma ao embelezamento urbano.
Assim Palmeira dos Índios, faz muito bem em repaginar o centro da cidade que tanto precisava: o esvaziamento do chamado Açude do Goiti, para dragagem, limpeza e obras no entorno. Goiti é um dos montes dos seus limites, de cujas montanhas escorrem as águas que alimentam o açude. No monte Goiti, foi colocada a imagem de um cristo que recebeu popularmente o nome Cristo do Goiti. Também o açude formado no sopé e no centro da cidade, recebeu a mesma denominação do monte. A ponte do Comércio sobre parte do açude, muito antiga, receberá nova edição, segundo comentários. É ali onde estacionam camionetas e vans vindas do Sertão, principalmente em dia de feira-livre. Muitas obras já foram feitas naquela área, mas com as novas diretrizes, haverá transformação para melhor, elevando o tradicional cartão postal Xucurus.
Palmeira dos Índios fica perto da fronteira com o Sertão, grosso modo, na linha do rio Traipu. Tem como atrativos suas montanhas (entre elas a famosa serra das Pias), museus, comércio de fronteira e o fato de ter adotado Graciliano Ramos, o escritor de Quebrangulo. Fomos visitar o Cristo do Goiti – na época, um pouco desprezado – mas valeu a altitude que mostra um cenário deslumbrante que faz qualquer ser humano virar sonhador.
Torcemos para que o empreendimento municipal tenha êxito e os palmeirenses coloquem mais um brinco de ouro na “Princesa do Sertão”.










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