domingo, 15 de dezembro de 2019

CORDÃO DE SÃO FRANCISCO


CORDÃO DE SÃO FRANCISCO
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.230
CORDÃO DE SÃO FRANCISCO (FOTO/DIVULGAÇÃO).
Quando criança, nas minhas incursões pela caatinga bruta, capoeiras e margens de riachos, treinava na escola da vida com os matutos. Aprendi, entre outras coisas, a descascar laranja com as unhas, a fazer flauta de caule de abóbora, comer das cercas de arame o melão-de-são-caetano, brincar com o chumbinho e o fio-de-ouro, identificar os indivíduos da fauna e da flora. Entre os vegetais, gostava de sugar flores daquilo que sempre chamei de espinheiro. As flores longas e amarelas que rodeavam o núcleo cheio, pontiagudo e macio pareciam com espinhos. Fazia igual ao beija-flor (colibri, bizunga), degustando o néctar, gostoso, de ínfima quantidade. E somente agora, compadre venho a descobrir nome e serventia da planta formosa do Sertão.
 Conheci que o espinheiro, por mim chamado, tem o nome de cordão de frade ou cordão de São Francisco. Sua espécie é a Leonotis nepetaefolia, pertencente à família Labiatae. Originária da África pode ser encontrada na Ásia e em toda a América. Mas a surpresa não estava somente aí. Diz a botânica: suas propriedades são ótimas para problemas de rins, aliviam os gases, indicadas para dores abdominais, aliviam a circulação do sangue, desincha o pé, auxiliam nos problemas de estômago, cólica, fraqueza, reumatismo, cistite, nevralgias, febre e malária. Ajuda criança a aumentar os glóbulos vermelhos, reforça as defesas, ajuda problemas respiratórios como asma, infecção pulmonar, rinite e sinusite. Limpa os pulmões, reduz o catarro, curar tosse seca e dores de garganta.
Será que o nosso saudoso amigo Ferreirinha, cantor e mateiro, também sabia disso? Bem que ele publicou um folheto – era garrafeiro – sobre as curas pelas plantas.  A última vez em que vi o meu espinheiro foi no pátio de terra da Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas. Ao avistá-lo recordei a adolescência, mas só agora conheço os seus benefícios. Não sou eu quem recomenda os seus chás.
Se fumado, o cordão de São Francisco tem o mesmo efeito da maconha.
Ô Sertão arretado! “É morrendo e aprendendo”, comadre, com hífen ou se hífen






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sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

DESCENDO O VALE


DESCENDO O VALE
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.229

RIO IPANEMA (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).
Há algum tempo resolvemos fazer uma vistoria em trechos do rio Ipanema velho de guerra. Junto aos companheiros Manoel Messias, Marcello Fausto, Sérgio Campos e Ferreirinha, descemos a partir do lugar Barragem e fomos contemplando as duas faces do rio. Leito seco, na época. Justamente, iniciamos pelos lugares mais poluídos onde alguns animais selvagens teimam pela sobrevivência. E a admirável vegetação que prolifera no leito era a mesma que sempre ofereceu soluções para a saúde popular. E esses próprios vegetais que curam estavam sufocados pelo lixo sem controle dos inconscientes periféricos. Banhados encontravam-se com material aquático fruto da poluição intensa onde garças pantaneiras procuravam alimentação.
Visitamos nesse trecho o poço das Mulheres, o poço do Juá e o poço dos Homens. Encerramos essa fase na passagem molhada do Minuíno até a chamada Ponte dos Canos, cuja adutora transpõe o rio embutida por concreto. Estivemos galgando a antiga Pedra do Sapo que marcava a largura das cheias. De um oratório erguido no topo, restavam apenas os degraus de acesso, feitos com cimento. Continuamos, então, pelo segundo trecho, margeando o rio, por veredas de poeira, muita vegetação e limites de arame farpado. Mulungu, Unha-de-gato, Mamona, Mussabê, Urtiga e Mororó faziam parte da flora medicinal das ribanceiras. Fomos sair além do longo poço do Escondidinho, coberto totalmente de plantas aquáticas. Atravessamos o rio em outro poço adiante e voltamos pela margem oposta passando e examinando a foz do riacho do Bode.
Época de muitas flores no campo formando belo colorido no pano de fundo verde. Mas as ruínas da Igreja de São João, construída em 1917, causaram comoção na equipe aventureira. O poeta, compositor, cantor e pescador Ferreirinha, saía mostrando e explicando certos vegetais: fio-de-ouro, catingueira, urtiga, mororó... Exaltando seus poderes nas curas de certos incômodos. Fomos sair na casa de Dona Joaninha, mulher guerreira engajada conosco na luta pela proteção ambiental.
Outra incursão igual aquela... Estou a duvidar.
Ferreirinha já partiu, mas a sua foto pescando no lugar “Cachoeiras” (rio Ipanema) já faz parte do nosso livro “Repensando a Geografia de Alagoas”, inédito.


                                                                            

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