quarta-feira, 29 de abril de 2020

LATA NA CABEÇA


LATA NA CABEÇA
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.303
FOTO RARÍSSIMA (B. CHAGAS).

Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, mesmo que essa imagem tenha seus defeitos relativos ao tempo. Mas uma fotografia faz reviver aos mais velhos e refletir os mais novos. Representa sempre um testemunho inconteste de um passado, de uma situação e mesmo de uma dor. E quando se trata da história, da sociologia, da geografia santanense, sempre fica preso na garganta um ranço de nostalgia por alguns segundos ou por vários minutos. Os abnegados pesquisadores parecem sentir com maior intensidade os apertos emocionais das suas descobertas. E aquilo que não é mais possível acontecer, continua acontecendo na foto hibernosa do baú. Rever foto antiga é suspirar, reviver, lacrimar, esvanecer... Vamos fazer a leitura da foto abaixo:
1.   Voltemos ao passado em torno de 60 anos. 2. Santana sem água encanada. 3. Toda água de consumo vem das cacimbas arenosas do rio Ipanema. 4. Foto do trecho urbano do rio no local chamado Poço do Juá. 5. Leito seco do rio com alguns poços. 6. Vejamos o mundo de areia grossa no primeiro plano. 7. Duas mulheres e duas adolescentes apanham água das cacimbas invisíveis.  Lata e baldes são utilizadas. 8. Fundo médio: pessoas em outras atividades. 9. Terceiro plano, fundos de residências no início do Bairro da Floresta; parte ainda não habitada na barranca do Panema. 10. Mussabês no rio, coqueiros nos quintais. 11. Céu azul de verão. 12. Trajes humildes das pessoas. Foto raríssima do histórico santanense. 13. Faina diária das mulheres ribeirinhas do passado.
É esse o rio que sempre matou a sede do seu povo e alimentou a sua gente. Deu água, deu peixe, deu pasto, deu cura para os males, deu lazer, barro para seus telhados, areia para suas construções, juncos para seus colchões, esconderijos para os casais clandestinos, madeira para seus móveis, para seus carros de boi, monturos para seus descartes.
É esse o rio pai e mãe que tentam matá-lo em retribuição. Obstruem o seu caminho. Não querem deixá-lo escorrer. Mas o velho Panema ainda resiste e não pode faltar ao São Francisco onde se mistura e formam um só.
“Agua corrente, água corrente, teu destino é igual ao destino da gente”






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terça-feira, 28 de abril de 2020

BOCA DE CAIEIRA


BOCA DE CAIEIRA
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.302
FAZENDO TIJOLO ÀS MARGENS DO IPANEMA, EM TORNO DE
40 ANOS ATRÁS. (FOTO: B. CHAGAS).

Atualmente a juventude que naturalmente vem substituindo ditados populares, costuma chamar uma situação ou pessoa inflexível de “tampa de crush” ou de “boca de caieira”. Caieiras para quem não sabe, são pilhas organizadas de tijolos crus com boca para se colocar lenha e, alguns suspiros por onde entra o fogo e sai a fumaça durante o cozimento. O tijolo bom tem que ser bem cozido na caieira onde perde a cor esverdeada da argila original e fica da cor que conhecemos e que todo mundo chama “cor de tijolo” – atual moda de cor de tecidos. A profissão do oleiro é muito dura. Extrai o barro e molda os tijolos pelo dia até a quantidade suficiente para queimá-los. Prepara a caieira.  À noite toca fogo. Evitar beber água e tomar banho durante a queimada para “não estuporar”, dizem os entendidos.
Em Santana do Ipanema, havia no Minuino as três olarias que sustentaram a cidade com esse material de construção, durante décadas. A de José Cirilo, a de Eduardo Rita (que também fabricava telha do barro) e a do senhor Pedro Cristino (Seu Piduca). Todas elas tinham os seus limites nos terrenos, mas pessoas outras também aproveitavam o barro da ribanceira do rio e vez em quando éramos surpreendidos à noite com os belíssimos fogos das caieiras contrastando com o negror do tempo. Lá de longe, dos alpendres dos fundos das casas da Rua Antônio Tavares avistávamos nas margens do rio Ipanema a labuta renhida dos oleiros.
Mas em outros trechos urbanos do rio Ipanema também havia o fabrico dos tijolos, esporadicamente. A retirada contínua da argila das ribanceiras, provocavam grande barrocas que não paravam de crescer, mudando a feição e alargando o leito. Nos dias atuais as caieiras são raras por ali, mas sempre aparece alguém com necessidade e parte para fazer tijolos. Ainda hoje, no Minuino, nota-se o espaço e uma barreira enorme de onde era extraído o barro da olaria de José Cirilo, bem na subida do Conjunto Eduardo Rita, antiga estrada para Olho d’Água das Flores.
A quem interessa fatos e fotos da história santanense? Pelo menos quando desaparecem os primeiros ficam as fotos saudosistas e provocadoras de emoções.









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