domingo, 28 de junho de 2020

NA TORRE DOS SINOS


NA TORRE DOS SINOS
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de junho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.334
 
UM DOS ÂNGULOS VISTOS DA TORRE. (FOTO: LIVRO 230, PARTE NOSTALGIA/DOMÍNIO PÚBLICO). 
Confirmamos para uma pessoa interessada que o maior cartão de visitas de Santana do Ipanema, sem dúvida alguma, continua sendo a Matriz de Senhora Santana. A sua belíssima arquitetura resultante da segunda reforma dos anos 40, obedece às principais linhas da capela de origem de 1787. Santana ainda não é oficialmente uma cidade turística, mas a atração principal, no caso, seria o mirante do campanário onde abriga três ou quatro sinos perto dos 35 metros de torre. Logo acima dos sinos, está a engrenagem dos relógios gigantes das quatro faces do abrigo. Logo em seguida vem uma plataforma estreita e externa por onde se alcança a cruz no topo do edifício por uma escada de metal.
Para se chegar à torre dos sinos, galga-se cerca de trinta degraus de cimento até o chamado “coro da igreja”, um bom espaço onde o coral cantava ao som vivo de um órgão, tocado por dona Maroquita, irmã do padre Bulhões, o reformador da igreja. Daí para a torre dos Sinos, teríamos que subir uma escadaria de madeira. A segurança era pouca e, no campanário com as quatro bocas em forma de portas abertas sem uma única barra de ferro como proteção. Para se chegar até ali não era tão difícil. Difícil mesmo era não se encolher no local ao apreciar a paisagem nas quatro direções dos pontos cardeais. Estamos falando para quem tem medo de altura, como nós. Mas havia quem subisse para consertar lâmpadas na cruz sem nenhum equipamento, Gente de nervos de aço que ficava de braços abertos na cruz, cuja camisa tremulava igual a bandeira nacional.
Quem teria feito aquela escadaria de madeira? Não existe registros sobre a origens dos sinos, tocados pelos ritmos mágicos do zelador e sineiro “Major”. A paisagem é plena a partir do lado sul da torre, que se espraia para a região da serra Aguda. O lado Leste foca nos telhados do comércio e parte da Avenida Coronel Lucena (foto abaixo). O major, descendente de escravos, era o zelador da igreja. Idade avançada, muito calmo, fala mansa, desfilava pela nave, descalço e nunca nos recusou à subida até os sinos que ele tocava com a magia das suas mãos. Alma boa que deve estar bem privilegiada no céu. Muito se tem a dizer sobre a Matriz e que não cabe em apenas numa crônica.







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quinta-feira, 25 de junho de 2020

GARRAFADA, BOTICA E REZADOR


GARRAFADA, BOTICA E REZADOR
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de junho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.333
 

      Médico no interior é uma coisa complicada. Santana do Ipanema passou um longo período sem um único médico, nem mesmo  particular. Quando adoecia alguém, recorria-se às ervas da periferia, às orações dos devotos, às garrafadas ou a rezadores e rezadeiras, como dizia o professor Alberto   Nepomuceno Agra, Meu grande mestre. Os mais abastados quando precisavam de serviços da saúde, podiam recorrer a Garanhuns, Palmeira dos Índios ou ao Recife. Mais tarde, o  hospital de Pão de Açúcar serviu para muito socorro santanense. Foi assim que chegou a Santana, o senhor Hermínio, da cidade de Viçosa e como prático curou muita gente em Santana, chegando até a abrir farmácia na cidade,
A vida de Moreninho daria um livro completo de casos e mais casos. Parecia o estadista inglês Winston Churchill, chapéu coco e charuto à boca. Muito querido, foi o médico ((sem ser) da grande maioria da população santanense. Essa foi A época dos rezadores e rezadoras famosas e garrafeiros famigerados. As rezadeiras (em algumas regiões chamadas benzedeiras) eram sempre encontradas nos sítios e na periferia  da cidade. Já os garrafeiros, não eram muitos assim. Tanto a rezadeira ou rezador quanto o garrafeiro ou a garrafeira, conheciam sobrando ervas, raízes, madeira e folhas da caatinga. Prestaram fundamentais serviços à população carente de doutores. Sobre parteiras e suas habilidades, ladeavam-se nesse misterioso destino de curas e de recepção de vidas.
Ainda hoje Santana é carente de médicos. Conversamos com vários dentistas e doutores de Maceió. Dissemos do progresso da cidade, pintamos tudo, mas sempre existiu uma evasiva em todos os consultados. Médico da capital parece pensar que interior é a selva amazônica. Daí batermos na tecla de primeiro conhecer todo o seu município, depois, todo o seu estado, para poder conhecer o mundo. O balançar do ramo não é tão raro assim, principalmente para quem adoece em final de semana se não for para o hospital do SUS.
Algumas rezadoras e rezador que partiram: Seu Francelino, Dona Lica e Dona Mocinha. Fica a nossa homenagem.
FOTO: BARBATIMÃO/DIVULGAÇÃO




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