domingo, 20 de setembro de 2020

 

ASFALTO PARA O BARROSO

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de setembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.383


Solidão do Barroso em 2013. (Foto: Livro 230/B. Chagas).

A divulgação do governo municipal, através de vereador de situação sobre possível pavimentação asfáltica Bairro Lajeiro Grande – sítio Barroso, repercutiu bem na zona rural norte de Santana do Ipanema.

Certo que ainda é apenas uma intenção, pois seria preciso adquirir mais dois quilômetros de asfalto, mas como diz o povo, “Quem atacha quer comprar”.  Como o primeiro cemitério de Santana foi demolido nos anos 40, foi construído o segundo na parte alta do Bairro Camoxinga com alegação que ficaria longe do Centro. Mas a sua implantação fez ajudar  o estiramento da cidade naquela direção e o cemitério Santa Sofia também foi incorporado a zona urbana e com muita força, tanto é que para sua vizinhança foi a COHAB NOVA, O Estádio Arnon de Mello e inúmeras ruas formando assim outro bairro vizinho denominado Rua das Pedrinhas e que também já originou o terceiro denominado popularmente de Quilombo.

O cemitério Santa Sofia ficou apertado e foi preciso a construção de um novo lugar para os mortos. Terrenos apropriados difíceis de encontrar, a solução foi construir o terceiro cemitério de Santana em um sítio longe da cidade. Foi assim que o então, governo municipal Nenoí Pinto, implantou o cemitério no sítio Barroso, dando-lhe o nome de São José, embora o povo continue a chamá-lo simplesmente “Cemitério do Barroso”. Saindo do Bairro Lajeiro Grande, ao norte de Santana, vamos encontrar o cemitério do Barroso, a cerca de 2 km em direção à cidade de Águas Belas, Pernambuco, estrada essa construída pelo então, interventor municipal Pedro Gaia, em 1938. Por ali se vai para região serrana do município com os sítios Barroso, Água Fria, Salgado, Camoxinga dos Teodósio, Tigre, Pé de Serra, Pinhãozeiro, Malembá e outros mais.

Vê-se a importância da intenção anunciada do asfalto até aquele sítio, plano, terreno de barro e repleto de chácaras formadas antes do cemitério. No Barroso acontecia as antigas corridas de cavalo. Seria o puxamento definitivo dos Lajeiro Grande, Pedrinhas, Quilombo, para aquelas imediações uma vez que estes caminham lentamente para o Barroso. Além de melhorar o trecho para os cortejos fúnebres, (longo, cheio de poeira e dificultoso, a pé) seria beneficiada parcialmente toda àquela região mais úmida de Santana do Ipanema.

Asfalto para mortos e vivos, conquista espiritual e terrena para a solidão do São José.

 

 

 

 


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quarta-feira, 16 de setembro de 2020

 

A PEDIDO DE AMIGO

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de setembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.382

BAIRRO APÓS CHEIA

 (CRÉDITO: CADA MINUTO)

A Rua Tertuliano Nepomuceno, em Santana do Ipanema, nasceu com a necessidade de expansão do quadro comercial. Pode-se se afirmar que foi uma das primeiras ruas da cidade. Ainda muito curta, já era considerada ponta de rua onde surgiram as primeiras casas de prostituição que os apontamentos esporádicos apontam. Com o progresso ainda lento, as casas das putas (linguagem popular) foram se afastando aos poucos, chegando a ocupar uma parte da antiga Matança. Matança era um terreno aberto, insalubre na margem esquerda do riacho Camoxinga, que antes fizera parte dos quintais e terras do Padre José Bulhões. Matança porque era lugar de abate do gado bovino no chão bruto forrado apenas de folhas e galhos de catingueira, levados em feixes na cabeça de mulheres e homens, trazidos da periferia.

Depois de longo período naquele lugar, novamente a zona de meretrício foi deslocada para mais distante até chegar, permanecer e resistir no Aterro até os dias atuais, onde ainda se encontram remanescentes. O, então, prefeito Paulo Ferreira começou a facilitar construções de casas para a pobreza, justamente no terreno baixo, insalubre, de tanto derramamento de sangue animal da Matança. Assim nasceu o chamado Bairro Artur Morais, dono de um dos bordéis daqueles lugares. Rapidamente a antiga Matança foi sendo habitada com seu entorno, fazendo do riacho Camoxinga apenas um esgotão a céu aberto. A antiga Rua do Barulho (um doido chamado Barulho que ali fora assassinado), depois com placa de Rua José Amorim (que também fora assassinado), não fazia parte do Bairro Artur Morais, pois fora formada bem antes daquela criação. Não sabemos, porém, se a Rua do Barulho está classificada com Centro ou pertencente ao Artur Morais.

Foi uma rua formada praticamente por feirantes e gente vinda da zona rural. A pobreza sempre fez parte da rua até os presentes dias. Hoje está colada ao Bairro Artur Morais. Na época de formação das residências na Matança, ficamos chocados com o que se oferecia aos menos aquinhoados. Quem não se lembra da recente tragédia da enchente de março? Dizer verdades pode doer em muita gente, apenas estamos respondendo o miolo a quem nos pediu que falasse sobre aquela região.

O Bairro Artur Morais com tantos problemas acumulados, ainda é um bairro duro de roer.

 

 

 

 

 


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