domingo, 7 de fevereiro de 2021

 

PALMEIRA EM FOCO

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.466

 



     Pelas notícias surgidas o governo de Alagoas está mesmo endinheirado. As promessas da semana passada deixam Palmeira dos Índios – cidade no limiar do Agreste fronteira com o Sertão – eufórica. Isso porque o município poderá dar um salto de qualidade, uma vez que o governador vai atuar com força naquela região. Um dos anúncios governamentais é a duplicação da AL-115, rodovia que liga Palmeira dos Índios a Arapiraca, um atalho via Igaci. A rodovia é um verdadeiro pulo entre as duas cidades agrestinas, daí o intenso tráfego de carretas, caminhões e outros veículos pesados, dia e noite pelo trecho perigoso de tantas curvas apresentadas. É também um atalho significativo entre o Recife e a região Sudeste, o que justifica o trânsito perigoso e constante por aquele trecho da AL-115.

Além disso um novo hospital será construído em Palmeira dos Índios e projeto para asfaltamento de 70 ruas. Outros benefícios ainda foram anunciados na Princesa do Agreste e que visa assegurar uma dinâmica de desenvolvimento regional que merece a atenção do   povo sertanejo. Palmeira dos Índios também fica situada em lugar privilegiado, pertinho da capital do interior, Arapiraca, fronteira com o Sertão, vizinho a Pernambuco e rota para Bom Conselho, Garanhuns, Caruaru e Recife. É só vencer a famigerada serra das Pias e logo adentrará a Pernambuco. Palmeira dos Índios recebeu a primeira estrada asfaltada de Alagoas no governo Arnon de Melo, essa merece de verdade uma duplicação até Maceió, porém o governo estadual optou pelo alargamento da AL-115 e que nada temos contra.

Palmeira dos Índios vem de um aldeamento dos índios xucurus do século XVII. Esse aldeamento que ficava no lugar Cafurna corresponde ao sítio da atual cidade. A herança das belas palmeiras que ornavam o território indígena continuou no título da terra das pinhas. Várias cidades fazem parte do cordão de satélites de Palmeira dos Índios, tanto do Agreste quanto do Sertão: Estrela de Alagoas, Minador do Negrão, Cacimbinhas, Igaci e Belém. Em outros tempos já possuiu estrada de ferro ligada à capital Maceió e à cidade ribeirinha do São Francisco, Porto Real de Colégio.

Palmeira dos Índios é a terra adotada por Graciliano Ramos. Também fazem parte da sua história o poeta Chico Nunes, os escritores Luiz B. Torres e Adalberon Cavalcante Lins.

AÇUDE DO GOTI (FOTO: B. CHAGAS).

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/02/palmeiraem-foco-clerisvaldob.html

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

 

SÓ TEM BODE

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.465




Ainda nos anos 60 a carne de bode era bastante desvalorizada. No geral, só quem apelava para essa proteína eram as pessoas de menor poder aquisitivo. Todavia aí não estava incluída a chamada buchada, prato cobiçado por todas as classes sociais. Até havia escolha quando a preferência pelo bode superava a buchada de carneiro, diziam os entendidos. Cantava o forrozeiro:

“Eu faço uma buchada

De bucho de bode

Que o cabra come tanto

Que mela o bigode...”

 

Também eram consideradas coisas para trabalhadores braçais, o charque e o bacalhau que hoje concorrem com o preço do ouro. O bacalhau era alimento dos escravos. O charque era servido aos “batalhões” nos roçados. Mas voltemos ao nosso bode pai de chiqueiro do dia a dia.

Três ou quatro hotéis havia em Santana muito procurados pelos viajantes, assim chamados os caixeiros-viajantes que chegavam de Maceió e Recife para vender seus produtos na Praça. Para economizar, sempre surgiam os que procuravam hospedarias mais humildes como a de dona Rosa no perímetro das feiras semanais. Vez em quando ficávamos sabendo o que se servia nessas pensões pelo humor de algum viajante presepeiro:

 

“Seu Mané como é que pode

Seu Mané como é que pode

Na pensão de Dona Rosa

Só tem bode...

Só tem bode”.

 

Atualmente desapareceu o caprino no médio sertão. “Dar trabalho se criar o bicho pulador de cerca e de pouco rendimento na panela”, falam os criadores de ovinos.  Mas o Candinho da novela das seis, ao procurar um bode para a sua cabra Ariana, parece despertar o apetite pelo bode assado e a buchada sertaneja. Enquanto o dono das cabras está sendo promovido em cidades como Petrolina, Picuí e Recife, de gado miúdo só temos o carneiro para agradar ao turista.

Por favor, não botem a culpa, porém, em DONA ROSA...

Venda de bode (Foto: g1.globo.com)

 

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/02/sotem-bode-clerisvaldob.html