quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

 

SÓ TEM BODE

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.465




Ainda nos anos 60 a carne de bode era bastante desvalorizada. No geral, só quem apelava para essa proteína eram as pessoas de menor poder aquisitivo. Todavia aí não estava incluída a chamada buchada, prato cobiçado por todas as classes sociais. Até havia escolha quando a preferência pelo bode superava a buchada de carneiro, diziam os entendidos. Cantava o forrozeiro:

“Eu faço uma buchada

De bucho de bode

Que o cabra come tanto

Que mela o bigode...”

 

Também eram consideradas coisas para trabalhadores braçais, o charque e o bacalhau que hoje concorrem com o preço do ouro. O bacalhau era alimento dos escravos. O charque era servido aos “batalhões” nos roçados. Mas voltemos ao nosso bode pai de chiqueiro do dia a dia.

Três ou quatro hotéis havia em Santana muito procurados pelos viajantes, assim chamados os caixeiros-viajantes que chegavam de Maceió e Recife para vender seus produtos na Praça. Para economizar, sempre surgiam os que procuravam hospedarias mais humildes como a de dona Rosa no perímetro das feiras semanais. Vez em quando ficávamos sabendo o que se servia nessas pensões pelo humor de algum viajante presepeiro:

 

“Seu Mané como é que pode

Seu Mané como é que pode

Na pensão de Dona Rosa

Só tem bode...

Só tem bode”.

 

Atualmente desapareceu o caprino no médio sertão. “Dar trabalho se criar o bicho pulador de cerca e de pouco rendimento na panela”, falam os criadores de ovinos.  Mas o Candinho da novela das seis, ao procurar um bode para a sua cabra Ariana, parece despertar o apetite pelo bode assado e a buchada sertaneja. Enquanto o dono das cabras está sendo promovido em cidades como Petrolina, Picuí e Recife, de gado miúdo só temos o carneiro para agradar ao turista.

Por favor, não botem a culpa, porém, em DONA ROSA...

Venda de bode (Foto: g1.globo.com)

 

 


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