NOVOS TEMPOS, NOVOS ESQUECIMENTOS
Clerisvaldo B. Chagas, 3 de fevereiro de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.463
Quando
o rio da cidade não tinha ponte era um grande sufoco para a mascateação pelas
cidades próximas de Santana do Ipanema.
As enormes caixas de mercadorias dos mascates, quase sempre atravessavam
o rio em canoas com seus respectivos donos. Essa prestação de serviço acontecia
no poço do Juá, ponto mais largo do Ipanema, bem próximo ao comércio
local. Mas ainda havia prestação de
contas com o riacho João Gomes, afluente do Ipanema, que também nos fortes
invernos não dava passagem aos caminhões dos mascates. A 3 km do centro de
Santana, o valente riacho cortava a rodagem tornando-se obstáculo sério aos
negociantes. Muitas vezes a corrente surpreendia os feireiros à tardinha na
volta a Santana das feiras de Olho d’água das Flores, Carneiros e Pão de
Açúcar.
Horas
e horas se passavam com a fila dos caminhões procurando transportar as
mercadorias de um lado a outro do riacho e suas cheias. Não me vem à lembrança
como os motoristas conseguiam transportar aquelas caixas pesadas de madeira
margem a margem. Mas se nada fosse feito, estariam sujeitos à espera de dois,
três dias, para que o João Gomes desse passagem novamente. Essas tentativas que
se iniciavam ao cair da tarde, prolongavam-se noite a dentro. Imaginem a que
horas os mascates chegavam aos seus lares após o riacho João Gomes e o rio
Ipanema com as canoas do Juá! E se havia um certo romantismo nessa época, as
dificuldades superavam os sonhos das aventuras. Tempos dos “cassacos de
rodagens”, homens que trabalhavam fazendo e consertando estradas.
Nessa
época Santana do Ipanema era rica em manufatura e exportava couros, peles,
calçados, sola, aguardente, vinagre, colorau, massas comestíveis, cordas,
caroço e capulho de algodão, móveis, artesanatos utilitários como bicas de
zinco e candeeiros de flandres, linguiça, carne de sol e banha de porco. Uma
potência depois assassinada pelo descaso administrativo sequencial.
O
progresso veio com as construções de pontes sobre o rio Ipanema e sobre o
riacho João Gomes. A distância entre cidades diminuiu ainda mais com a
cobertura asfáltica sobre a AL-130. Mas o regresso também acompanhou o
modernismo acabando com toda a nossa manufatura por conta do que já foi dito
acima.
E
você que é da nova geração, sabia disso? A história de Santana lhe contou?
NOVOS TEMPOS, NOVOS ESQUECIMENTOS.
RIO
IPANEMA (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).
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