FOI
DE FAZER MEDO
Clerisvaldo
B. Chagas, 18/19 de fevereiro de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.473
Na última terça-feira,
por volta das 19 horas, caiu uma grande trovoada no Sertão de Alagoas,
aguardada desde o mês de janeiro. Os trovões foram terríveis com relâmpagos e
provavelmente com inúmeros raios pela redondeza. A chuva foi tão forte e
duradoura na cidade de Santana do Ipanema que duvidamos de ter escapado uma só
casa sem estuque que tenha se livrado de tantas goteiras. As calhas
transbordaram e os esgotos de canos de 100, tiveram muito trabalho para
escoarem as enxurradas dos telhados. E o pior, faltou energia, Santana perdeu
todos os meios de comunicação, ficou completamente ilhada, enquanto os clarões
dos céus cortavam o espaço. Comércio fechado, ruas desertas e os trovões
encurralando os viventes.
A energia da Equatorial
só apareceu lá para as 23 horas, mesmo assim por pouco tempo. A chuva amainou,
mas logo voltaram à ativa a escuridão e um resto da chuvarada. Calor imenso, escuridão sem Internet, sem
telefone, sem ar condicionado, sem ventilador, foi uma noite muito dura. O dia
seguinte, quarta-feira, nada de energia, nada de comunicações. No anoitecer
dessa quarta-feira de Cinzas, nova trovoada teve início, coisa nunca vista,
duas trovoadas seguidas em poucas horas. A mesma novela da noite anterior:
escuridão total, relâmpagos, trovões e receios, sendo a violência do tempo
menor do que a noite da terça. A trovoada só foi se acalmar lá para as 22
horas. Só apareceu a luz no breu da cidade, em torno de 23.30. Finalmente amanheceu e o sertão mostrou um céu
límpido como se nada tivesse acontecido. As ruas estavam lavadas e, cremos que
os pecados também.
Só não se perderam os
alimentos que estavam em congelador, falam em muito prejuízo. As primeiras
notícias da quinta apontaram o apagão em Santana do Ipanema e mais nove cidades
sertanejas. Todos queriam uma trovoada, Zé, mas não com as trevas e violência
do tempo. O saldo é que deve ter enchido barreiros, açudes, barragens e
cisternas de toda a região. Ainda madrugada, espanta-boiadas faziam alaridos
sobrevoado o rio Ipanema e logo cedo do novo dia, o leiteiro com sua moto de
entrega e buzina de carro grande, anunciava a volta da normalidade na terra de
Senhora Santana.
Segundo dia de
quaresma.
Amém, amém!
CHUVA EM SANTANA (FOTO:
B. CHAGAS).
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