segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

 

TEMPO IMPLACÁVEL

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.467





Temperatura altíssima nos últimos dias no Sertão. No interior de cada residência a procura do melhor lugar contra o calor. Vegetação amarelando nos montes, nas planuras... Nas baixadas. Fontes d’água mirrando, desaparecendo, rareando “bebidas” para os animais selvagens. Vão mais para longe procurando água: o preá, o teiú, a raposa, os diversos passarinhos que dão vivacidade às matas. Os longos caminhos vão ficando tristes ladeados pela vegetação transparente. No céu os urubus sobrevoam fazendo festa adivinhando mudança de tempo. Fevereiro prossegue forte retardando as trovoadas fugidias de janeiro. Os mandacarus furam o espaço com seus braços compridos, esverdeados e espinhentos. A poeira cobre a estrada onde marca os rastros nervosos do sardão.

O sertanejo deve louvar os seus barreiros, seus açudes... Suas cisternas oriundas do governo. Outrora anunciado como o grande libertador das secas, o Canal do Sertão continua num mutismo impressionante. Uma vez ou outra perdida sai um noticioso pela metade sobre suas ações. Assim não se pode saber como estão as terras cortadas pelo Canal, a política sobre o seu uso, o desenvolvimento dos trabalhos. O Canal do Sertão, cujo final seria em terras agrestinas, ainda não deixou o semiárido. Tampouco não é divulgado o mapa do seu roteiro, deixando o homem do campo desinformado e o investidor em alerta. O que vale mesmo nesse momento de fevereiro, é colocar os joelhos no chão pedindo chuva a quem tem para dá.

Estamos em pleno verão, e verão por aqui é “duro que nem boca de sino”, diz o agropecuarista. O problema é que as trovoadas prometem, mas não descem. Precisamos dessas águas das tormentas para com elas chegarmos ao próximo outono/inverno, meses mais chuvosos da nossa região. É certo, porém, que os dramas das secas são diferentes do passado. Estradas asfaltadas ligando todas as cidades das Alagoas, facilitam muito o deslocamento de pessoas e animais. O pau de arara teve fim, mas não deixa de existir o pequeno agricultor que tem mais sensibilidade aos impactos negativos da estiagem. E diante desse quadro chove, mas não chove, nada demais comparecer ao III Encontro do Profetas das Chuvas do sertão alagoano, na próxima sexta, dia 12.

(FOTO: BIANCA CHAGAS).

 

 

 


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