TEMPO IMPLACÁVEL
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de fevereiro de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.467
Temperatura
altíssima nos últimos dias no Sertão. No interior de cada residência a procura
do melhor lugar contra o calor. Vegetação amarelando nos montes, nas
planuras... Nas baixadas. Fontes d’água mirrando, desaparecendo, rareando
“bebidas” para os animais selvagens. Vão mais para longe procurando água: o
preá, o teiú, a raposa, os diversos passarinhos que dão vivacidade às matas. Os
longos caminhos vão ficando tristes ladeados pela vegetação transparente. No
céu os urubus sobrevoam fazendo festa adivinhando mudança de tempo. Fevereiro
prossegue forte retardando as trovoadas fugidias de janeiro. Os mandacarus
furam o espaço com seus braços compridos, esverdeados e espinhentos. A poeira
cobre a estrada onde marca os rastros nervosos do sardão.
O
sertanejo deve louvar os seus barreiros, seus açudes... Suas cisternas oriundas
do governo. Outrora anunciado como o grande libertador das secas, o Canal do
Sertão continua num mutismo impressionante. Uma vez ou outra perdida sai um
noticioso pela metade sobre suas ações. Assim não se pode saber como estão as
terras cortadas pelo Canal, a política sobre o seu uso, o desenvolvimento dos
trabalhos. O Canal do Sertão, cujo final seria em terras agrestinas, ainda não
deixou o semiárido. Tampouco não é divulgado o mapa do seu roteiro, deixando o
homem do campo desinformado e o investidor em alerta. O que vale mesmo nesse
momento de fevereiro, é colocar os joelhos no chão pedindo chuva a quem tem
para dá.
Estamos
em pleno verão, e verão por aqui é “duro que nem boca de sino”, diz o
agropecuarista. O problema é que as trovoadas prometem, mas não descem.
Precisamos dessas águas das tormentas para com elas chegarmos ao próximo
outono/inverno, meses mais chuvosos da nossa região. É certo, porém, que os
dramas das secas são diferentes do passado. Estradas asfaltadas ligando todas
as cidades das Alagoas, facilitam muito o deslocamento de pessoas e animais. O
pau de arara teve fim, mas não deixa de existir o pequeno agricultor que tem
mais sensibilidade aos impactos negativos da estiagem. E diante desse quadro
chove, mas não chove, nada demais comparecer ao III Encontro do Profetas das
Chuvas do sertão alagoano, na próxima sexta, dia 12.
(FOTO:
BIANCA CHAGAS).
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