A
BOLA DO FINADO
Clerisvaldo
B. Chagas, 4 de fevereiro de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica/conto 2.464
O
Estádio Arnon de Mello, em Santana do Ipanema, Alagoas, está situado ao lado do
Cemitério Santa Sofia, parte alta do Bairro Camoxinga. Recebeu o nome do,
então, governador em troca de vários milheiros de tijolos para cercar a praça
esportiva. Acordo firmado, hoje em dia a murada anda precisando de reforma para
mais segurança dos transeuntes da área.
Certa
feita, houve um jogo muito importante. A torcida lotava o estádio, inclusive,
havia muitos desportistas até em cima do alto muro que separa o cemitério do
estádio. O Ipanema, costumeiramente, sempre foi um time orientado para bola
rasteira e rápida, porém, desta feita um zagueiro mandou a bola violentamente
para o espaço fazendo com que ela caísse no Cemitério Santa Sofia.
A
torcida ficou irritada porque isso atrasaria o jogo, pois, na época, jogando
com uma bola só, era preciso enviar um funcionário do campo para rodear pela
rua, entrar no cemitério, procurar entre os túmulos e trazer de volta a pelota.
Mas eis que um milagre aconteceu. Abola retornou do mesmo jeito que havia
deixado o campo. Com o acontecimento inédito, houve uma debandada dos
torcedores que estavam encostados ao muro. O bandeirinha saiu em disparada se
benzendo e erguendo as mãos aos céus.
O
segundo acontecimento foi ainda mais espetacular. O Ipanema jogava um amistoso
com um time do Agreste quando um zagueiro, sufocado com o ataque adversário,
deu um chutão que a bola subiu e parecia não querer voltar ao solo, foi para
nos fundos do cemitério. Após cinco minutos de jogo paralisado, chega o vigia
do cemitério e devolve a bola dizendo: “O finado Zé Bodó mandou dizer que se a
pelota bater novamente em sua cruz rasgará a bola”. E como Zé Bodó havia
morrido há pouco meses, o treinador que recebeu a bola de volta teve uma
tremedeira na hora e uma diarreia momentânea, despachada nos recantos do
estádio.
Seria
o Benedito!
CEMITÉRIO
SANTA SOFIA CONSTRUÍDO ENTRE 1942 E 1945. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).
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