terça-feira, 2 de março de 2021

 

PÁSSAROS LENDÁRIOS DO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.481

 






     Diz uma lenda – citada pelos mais velhos no Sertão de Alagoas – que na ocasião em que José e Maria fugiram para o Egito levando o menino Jesus, foram perseguidos por soldados do rei Herodes.  Quando os perseguidores surgiam procurando pistas, o passarinho Bem-te-vi denunciava os fugitivos com seu canto: bem que vi, bem que vi. Esse é um dos motivos pelos quais o sertanejo, indiferente ou não, tem cisma a esse pássaro amarelo e preto: um traidor! Enquanto isso, o Colibri, de intenso colorido e a Lavandeira, de cores preta e branca, lavavam os paninhos de Nosso Senhor. No Sertão ninguém atira em Lavandeira, principalmente em época de Semana Santa. O beija-flor é apenas perseguido por adolescentes, com o nome de bizunga. A lenda ficou tão arraigada que parece verdadeira.

Mas o foco hoje é o Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus) da família dos Tiranídeos, “que habita em matas, campos, cidades, em todas as regiões brasileiras; é marca de alimento, de material de limpeza... E já foi nome de jornal revolucionário com partido político. Seu nome vem do tupi: pitanguá-guaçú. Ave de médio porte, mede entre 20 e 25 centímetros, tem o dorso pardo e a barriga de um amarelo vivo, uma lista branca como sobrancelha, cauda preta e pesa 52-68 gramas. Possui 10 subespécies reconhecidas. Alimenta-se de insetos, frutas, ovos e de filhotes de outros pássaros, flores de jardim, minhocas, lagartos, pequenas cobras, crustáceos, peixes, girinos, carrapatos de bovinos e equinos. Alimenta-se ainda de cupim e de ração animal encontrada na cidade, em comedouros. Pode-se dizer que é um controlador de pragas de insetos”. (Wikipédia).


O bem-te-vi é conhecido pela sua agressividade, enfrenta até urubus e gaviões quando estes se aproximam do seu território. Possui grande poder de adaptação e é um dos primeiros a cantar ao amanhecer. Gosta de voar solitário, mas pode ser encontrado em grupo de 3 ou 4 em antenas de televisão. Tanto pode estar perto de rios e lagoas quanto em áreas densamente povoadas por humanos.

Nunca encontramos em gaiolas nenhum bem-te-vi, beija-flor ou lavandeira.

Lembramos da capital alagoana, região da Serraria, quando um bem-te-vi nos despertava ao amanhecer e se despedia da tarde em torno das 16 horas. Companhia que alimentava a saudade sertaneja da terra de Senhora Santana. Você viu as minhas crônicas, Bem-te-vi?

Bem que vi! Bem que vi!

BEM-TE-VI, LAVANDEIRA, BEIJA-FLOR (Créditos: Pinterest; Wikiaves.com.br; br.depositfhotos.com, respectivamente).

 

 

 

 


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segunda-feira, 1 de março de 2021

 

 

BALAIOS E BALAIOS

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.480






 

Entre 1838 e 1841 aconteceu no Maranhão uma revolta social que ficou conhecida na história como “A Balaiada”. Muitos motivos de lutas e bastantes episódios de combates desenrolaram-se nessa rebelião que no fundo era o basta pela falta de justiça com as classes mais exploradas do povo maranhense. Três líderes populares se destacaram: o vaqueiro Raimundo Gomes, o quilombola negro Cosme Bento de Chagas e o artesão de balaios, Manoel dos Anjos Ferreira que pela profissão tinha o apelido de “O Balaio”. A luta contra a desigualdade social não é nada estranha a situação do Brasil da atualidade e, nem precisava dizer. Mas não iremos relatar o que se encontra escrito nos anais da história do Brasil. Queremos apenas fazer alusão ao fabricante ou artesão de balaios.

Nos sertões nordestinos o balaio feito de cipós – coletados na caatinga – tem como função principal receber ração para alimentar os gados bovino, caprino e ovino. Temos exímios artesãos do cipó tanto para o balaio quanto paras caçuás, espécie de cestas fundas com alças que se usa nas cavalgaduras para transporte de mercadorias diversas. Acontece que o desmatamento escasseou o cipó, buscado hoje cada vez mais longe. Inúmeros artesãos do cipó tiveram que mudar de profissão pela falta da matéria-prima. Atualmente não está fácil encontrar caçuás e balaios nas feiras livres como antigamente. Tanto é que alguns pequenos criadores passaram a utilizar pneus de trator cortados em duas bandas, para colocar e oferecer ração aos bichos da fazenda.

Embora os balaios do antigo Maranhão fossem diferentes, o que importa é a habilidade dos fabricantes de outrora e de hoje. Isso faz lembrar o povoado Alto do Tamanduá, município de Poço das Trincheiras. Enquanto as mulheres descendentes quilombolas trabalhavam o barro no fabrico de panelas e similares, os homens confeccionavam balaios com os cipós que havia em abundância pelos arredores. Com a extinção das matérias-primas, tantos homens quanto mulheres, amargaram situação vexatória e agora vivem de benefícios e insossas aposentadorias. Vaqueiros, quilombolas, artesãos do balaio, quando teremos um Brasil igualitário?

O balaieiro do passado e o balaieiro do presente podem fazer a diferença.

BALAIOS DE CIPÓS (CRÉDITO: PINTEREST)

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 


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