BALAIOS E BALAIOS
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de março de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.480
Entre 1838 e 1841
aconteceu no Maranhão uma revolta social que ficou conhecida na história como “A
Balaiada”. Muitos motivos de lutas e bastantes episódios de combates
desenrolaram-se nessa rebelião que no fundo era o basta pela falta de justiça
com as classes mais exploradas do povo maranhense. Três líderes populares se
destacaram: o vaqueiro Raimundo Gomes, o quilombola negro Cosme Bento de Chagas
e o artesão de balaios, Manoel dos Anjos Ferreira que pela profissão tinha o
apelido de “O Balaio”. A luta contra a desigualdade social não é nada estranha
a situação do Brasil da atualidade e, nem precisava dizer. Mas não iremos relatar
o que se encontra escrito nos anais da história do Brasil. Queremos apenas
fazer alusão ao fabricante ou artesão de balaios.
Nos sertões nordestinos
o balaio feito de cipós – coletados na caatinga – tem como função principal
receber ração para alimentar os gados bovino, caprino e ovino. Temos exímios
artesãos do cipó tanto para o balaio quanto paras caçuás, espécie de cestas fundas
com alças que se usa nas cavalgaduras para transporte de mercadorias diversas.
Acontece que o desmatamento escasseou o cipó, buscado hoje cada vez mais longe.
Inúmeros artesãos do cipó tiveram que mudar de profissão pela falta da
matéria-prima. Atualmente não está fácil encontrar caçuás e balaios nas feiras
livres como antigamente. Tanto é que alguns pequenos criadores passaram a
utilizar pneus de trator cortados em duas bandas, para colocar e oferecer ração
aos bichos da fazenda.
Embora os balaios do antigo
Maranhão fossem diferentes, o que importa é a habilidade dos fabricantes de
outrora e de hoje. Isso faz lembrar o povoado Alto do Tamanduá, município de
Poço das Trincheiras. Enquanto as mulheres descendentes quilombolas trabalhavam
o barro no fabrico de panelas e similares, os homens confeccionavam balaios com
os cipós que havia em abundância pelos arredores. Com a extinção das
matérias-primas, tantos homens quanto mulheres, amargaram situação vexatória e
agora vivem de benefícios e insossas aposentadorias. Vaqueiros, quilombolas,
artesãos do balaio, quando teremos um Brasil igualitário?
O balaieiro do passado
e o balaieiro do presente podem fazer a diferença.
BALAIOS DE CIPÓS (CRÉDITO:
PINTEREST)
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