URINA
PRETA
Clerisvaldo
B. Chagas, 8 de março de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.483
As notícias que percorreram o Brasil, da mulher que comeu peixe, pegou “doença da urina preta” e morreu, deixam os amantes de um peixinho assado como eu de antena ativada. A notícia vai mais além citando o nome do bicho que provocou a morte; trata-se do peixe de mar Arabaiana, muito apreciado nas Alagoas do litoral ao Sertão. Estar classificado pelo povo como da linha de frente com o atum, a cavala, o dourado. O caso aconteceu no Recife com uma veterinária, mas alertou consumidores do Brasil inteiro. O peixe contaminado com toxina, não demonstra mudança no aspecto o que leva ao consumo inocente de qualquer um. Credo em cruz doença da urina preta! Pode ser transmitida por outras espécies de peixes e por crustáceos, segundo informações.
Rememorando a pesca em
Santana do Ipanema, precisamente no Poço dos Homens, poço formado por trás do
casario do Comércio no rio Ipanema, dividia-se a pesca ao longo de todo o poço.
Na parte mais rasa, era feita pela meninada, adolescentes e mulheres, com litros
para piabas. A parte mais larga e mais profunda do poço, era dos adultos que
pescavam com tarrafas e anzóis. A parte estreita, também era utilizada por
adultos que pescavam com anzóis e raramente à mão, nas locas do poço. O
ex-baterista Toinho, apelidado “Toinho dos Fogões” e depois “Toinho das Máquinas”,
era exímio pescador de mandim, no anzol. Solitário, parecia espantar a amargura
dos dias difíceis de consertador de fogões e depois de máquinas de costura, nas
águas convidativas do Poço dos Homens.
Certa feita, o
ex-baterista dos áureos tempos dos grandes bailes nos clubes de Santana,
afirmou e cumpriu: “Não venho mais pescar. O peixe estar aparecendo com uma
doença feia que forma um caroço no lombo. Acho que é câncer”. E assim, Toinho
teve que complementar o pão da família de outra maneira. Era revoltado porque
os políticos da época faziam-se de cego às suas necessidades. Foi o único
pescador a alertar às pessoas do que estava acontecendo com a saúde dos peixes
do rio Ipanema, trecho urbano. Mesmo assim, desconhecemos qualquer providência
das autoridades sanitárias sobre o alerta de Toinho. Ainda hoje mais de trinta
famílias fazem a pesca miúda no trecho e nada de amostra de água nem de peixe
nos laboratórios, pelo menos publicamente.
E se os peixes do
Ipanema, não transmitiam a tal doença da Urina Preta, talvez transmitisse coisa
muito pior para a inocência das famílias e vistas grossas de quem mandava na
época.
POÇO DOS HOMENS EM 2006.
(FOTO: LIVRO 230/B. CHAGAS).
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