segunda-feira, 15 de março de 2021

 

REPENTES

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.485




Para quem aprecia a cultura popular nordestina, não deixa sua paixão pelo mundo encantado da viola. Há bastante tempo tinha fama em Alagoas o poeta Manoel Neném, na cidade de Viçosa. E Joaquim Vitorino, de Pernambuco era um dos repentistas mais famosos do Nordeste. Os grandes de Viçosa organizaram um desafio entre os dois vates, lá mesmo na Rainha das Matas. Folcloristas registraram algumas coisas, mas as duas primeiras estrofes dos cantadores, até hoje são imortalizadas na boca dos apologistas.

O poeta pernambucano iniciou a cantoria:

 

Sou Joaquim Vitorino

Filho do velho Ferreira

Natural de Pernambuco

De Afogados da Ingazeira

Sou o maior cantador

Dessa terra brasileira.

 

O outro respondeu a sextilha:

 

Eu sou Manoel Neném

Cantador que não se braia

Sou vento rumorejante

Nos coqueirais de uma praia

Sou maior que Rui Barbosa

Na conferência de Haia.

 

Essas duas estrofes até hoje correm mundo. Mas, sobre os bastidores, contou-me o meu saudoso sogro também repentista, Rafael Paraibano da Costa: “No meio da cantoria naquela noite    houve uma pausa entre a dupla, para beber água, pinga ou qualquer outra coisa. Manoel Neném, enciumado pelo sucesso do cantador de fora, disse aos seus amigos lá no escuro do terreiro, que iria acabar com a vida do vate adversário. Neném era metido a valente e usava punhal na cinta. Foi aí que um dos influentes de Viçosa lhe disse: ‘Não senhor, não se mata um canarinho desse em território alagoano’. Assim o bom poeta, mas intolerante, teve que engolir o ciúme e a valentia.

Não sabemos se na mesma época ou anos depois, o poeta Joaquim Vitorino, hospedou-se em Santana do Ipanema, na última casa da Rua Pedro Brandão na calçada alta, Bairro Camoxinga. Ali, em casa de família, o poeta que tinha problema de asma, antes de dormir vira um frasco com rótulo do remédio que usava. Tomou o conteúdo sem saber que era veneno guardado pelo dono da casa com rótulo para asma. Vitorino foi levado para Palmeira dos Índios, mas não resistiu à fatalidade. Faleceu lá mesmo em Palmeira.  Familiares vieram do Pernambuco para investigar e constataram apenas o que se sabia. A casa da Rua Pedro Brandão tinha uma varanda em forma de arco, hoje é casa de primeiro andar e pertence a um senhor conhecido como Hermes Som.

Logo voltaremos com mais histórias sobre Joaquim Vitorino.

VIÇOSA – AL (FOTO: IVALDO PINTO).

 

 

 

 

 

 


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