O
GUARDA, A PESTE E O CANTADOR
Clerisvaldo
B. Chagas, 24 de março de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Essa pandemia faz
lembrar o combate à peste, doença transmitida pelo rato. Isso já foi após a
campanha da varíola que o povo chamava de “bexiga” e matou muita gente. Havia
vários guardas de peste em Santana do Ipanema. Na minha rua morava um deles, na
Travessa Benedito Melo morava outro e na Avenida N. S. de Fátima também.
Inclusive, estourara o escândalo em que uma criança havia sido estuprada pelo
guarda da Avenida. Dirigindo-me ao Grupo Escolar Padre Francisco Correia,
encontrei multidão defronte a casa do homem, ou pedindo Justiça ou querendo
linchá-lo. Nunca soube no que deu. O chamado guarda de peste deixava uma
bandeira na porta ou janela da casa visitada, enquanto procurava colocar
medicamento nos potes e em outros depósitos d’água. Muita gente fazia como os
que hoje não querem usar máscara, isto é, não deixavam o guarda colocar o
remédio. Alegavam que o líquido ficava com gosto estranho.
Os dedicados
funcionários saiam também pela zona rural e muitas vezes passavam dias fora de
casa. Como todo combate às doenças, em alguns lugares eram bem recebidos, em
outros, escorraçados.
Certa feita, o poeta
repentista já mencionado aqui em outro trabalho, Joaquim Vitorino, descansava
numa rede no alpendre de uma fazenda, quando chegou um daqueles guardas.
Joaquim fez uma crítica amarga ao futuro concorrente de um bom almoço na casa
do fazendeiro. Sapecou-lhe uma décima:
Aqui no meu Nordeste
Vem gente igual ao senhor
Goza mais do que doutor
Nesse negócio da peste
Andando pelo agreste
Não lhe falta o que comer
E com esse parecer
A profissão tem regalo
Comendo galinha e galo
Botando o pote a perder
Não se brinca com
repentistas.
REDE DE DORMIR
(FOTO/DIVULGAÇÃO).
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