terça-feira, 20 de abril de 2021

 

AINDA OS CASARÕES SANTANENSES

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.516



 

Tudo leva à década de 20 do século passado, a construção do enorme prédio do governo estadual no Bairro São Pedro.  Ficou conhecido pelo povo como o prédio do Fomento Agrícola.  Foi a época em que o governo resolveu apostar tudo na agricultura sertaneja, sendo designado para a missão o agrônomo Otávio Cabral que fundou o Sítio Sementeira para experimentos agrícolas e chegou a ser dirigente de Santana do Ipanema. Foi construído ainda o prédio em forma de sobrado chamado Perfuratriz, onde hoje funciona a Associação da Rua da Praia. O prédio da Perfuratriz (belo edifício) foi marco da cheia do Ipanema de 1941, a mais famosa da história. Esse foi demolido. O casarão do Fomento foi sendo desgastado pelo tempo até chegar a sua vez de desaparecer. Abrigava o primeiro tanque para corpo de bombeiros de Alagoas, diziam, ferrugem o devorou e, o prédio sem socorro, deixou de existir.

O casarão era como um senhor respeitável que atraía prestígio para o bairro São Pedro. Era muito imponente virado para a Rua São Paulo, início da antiga rodagem para Olho d’Água das Flores. Pertinho dali, no final da Rua Antônio Tavares, um segundo casarão havia, cheio de janelões e quintal chegando até a rua de baixo, na época chamada Rua de Zé Quirino. (Fora ele quem a iniciara). O casarão visto pela lateral de onde se avistava a metade dos seus janelões de madeira era realmente impressionante. O casarão era em preto, isto é, só tijolo e barro sem reboco. Ali funcionava a fábrica de colchões de junco do Sr. Júlio, vulgo Júlio Pezunho, por ter um dedinho a mais na mão, atrofiado.

Santana era a terra de casarões e sobrados que marcavam o tempo faustoso da época de vila. Construir casas enormes e sobrados demonstravam prestígio para os respectivos donos. A marcha inexorável do tempo, foi acabando com a moda que foi sendo esquecida na Santana moderna.

Raras fotografias vão contando uma história sem texto da Arquitetura dos ricos.

FOMENTO AGRÍCOLA EM RUÍNAS, 2013. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230)


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segunda-feira, 19 de abril de 2021

 

PERFUME

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.515


 

Essas chuvas esparsas que estão acontecendo em nosso sertão de Alagoas, têm aparência de fim de inverno. Mas como estamos ainda no outono, combina vez em quando esse refresco em terras sertanejas. Com esses serenos aguando a caatinga, o aroma selvagem de mato invade gostosamente as narinas dos transeuntes. O velame, comum nas veredas e margens de riachos, aparenta  comandar toda a perfumaria da caatinga. Parece até que são as primeiras chuvas que agradam mais aos matos nativos. Como é rica a nossa flora! Até o mato baixinho dos terrenos baldios, bota florezinhas variadas e perfuma tudo. Isso me lembra uma curta viagem ao sítio rural Curral do Meio com o zelador do Ginásio Santana, na época, Sebastião Veríssimo.

O zelador que voltava sempre á noite para casa no citado sítio nos convidou para conhecer sua morada. Contou-nos a história de ter se encontrado com um guará choco e disse que lutou muito com uma faca-peixeira à mão e via a hora de sucumbir perante a ferocidade e insistência do lobo solitário. Quando a fera desistiu do ataque, ele já estava completamente exausto. São os perigos de quem transita pelos campos em horas inconvenientes. Mas voltemos à visita ao Curral do Meio onde fica a Fazenda Sementeira, hoje Reserva ambiental do governo do estado. Terras planas, bonitas, de lá se avistava o serrote do Gonçalinho, atualmente chamado serra das Micro ondas.

Veríssimo saiu me mostrando o mato do campo, nomeando e dando sua serventia: Favela, rabo-de-raposa, mata-pasto, capim santo... Até que disse: “vou lhe fazer uma surpresa”. Mostrou-me uma plantinha roxa que não tinha dez centímetros de altura, perdida no meio de tantas maiores e mais ativas, arrancou suas folhas, entrego-as na minha mão e disse: esfregue-as e cheire. Assim procedi e fiquei muito agitado como se tivesse descoberto ouro. Um perfume extraordinário que poderia ser comparado aos melhores perfumes franceses. Infelizmente não dá para lembrar o nome da plantinha. Adiante, mostrou-me outra planta sem falar o nome, depois só fez confirmar o que o cheiro forte revelava: Vick Vaporub, matéria prima do famoso unguento de farmácia. Eu não tinha a menor ideia do que estava testemunhando. Aprendi muito com o homem simples do campo.

É assim a nossa flora sertaneja. Surpresas por todos os lugares.

LOBO GUARÁ (Crédito: notícias.smbiente.com.br)

 

 

 


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