PERFUME
Clerisvaldo
B. Chagas, 20 de abril de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.515
Essas chuvas esparsas
que estão acontecendo em nosso sertão de Alagoas, têm aparência de fim de
inverno. Mas como estamos ainda no outono, combina vez em quando esse refresco
em terras sertanejas. Com esses serenos aguando a caatinga, o aroma selvagem de
mato invade gostosamente as narinas dos transeuntes. O velame, comum nas
veredas e margens de riachos, aparenta
comandar toda a perfumaria da caatinga. Parece até que são as primeiras
chuvas que agradam mais aos matos nativos. Como é rica a nossa flora! Até o
mato baixinho dos terrenos baldios, bota florezinhas variadas e perfuma tudo.
Isso me lembra uma curta viagem ao sítio rural Curral do Meio com o zelador do
Ginásio Santana, na época, Sebastião Veríssimo.
O zelador que voltava
sempre á noite para casa no citado sítio nos convidou para conhecer sua morada.
Contou-nos a história de ter se encontrado com um guará choco e disse que lutou
muito com uma faca-peixeira à mão e via a hora de sucumbir perante a ferocidade
e insistência do lobo solitário. Quando a fera desistiu do ataque, ele já
estava completamente exausto. São os perigos de quem transita pelos campos em
horas inconvenientes. Mas voltemos à visita ao Curral do Meio onde fica a
Fazenda Sementeira, hoje Reserva ambiental do governo do estado. Terras planas,
bonitas, de lá se avistava o serrote do Gonçalinho, atualmente chamado serra das
Micro ondas.
Veríssimo saiu me
mostrando o mato do campo, nomeando e dando sua serventia: Favela,
rabo-de-raposa, mata-pasto, capim santo... Até que disse: “vou lhe fazer uma
surpresa”. Mostrou-me uma plantinha roxa que não tinha dez centímetros de
altura, perdida no meio de tantas maiores e mais ativas, arrancou suas folhas,
entrego-as na minha mão e disse: esfregue-as e cheire. Assim procedi e fiquei
muito agitado como se tivesse descoberto ouro. Um perfume extraordinário que
poderia ser comparado aos melhores perfumes franceses. Infelizmente não dá para
lembrar o nome da plantinha. Adiante, mostrou-me outra planta sem falar o nome,
depois só fez confirmar o que o cheiro forte revelava: Vick Vaporub, matéria
prima do famoso unguento de farmácia. Eu não tinha a menor ideia do que estava
testemunhando. Aprendi muito com o homem simples do campo.
É assim a nossa flora
sertaneja. Surpresas por todos os lugares.
LOBO GUARÁ (Crédito: notícias.smbiente.com.br)
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