SANTANA PERDE
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.507
Com a morte do
santanense Romildo Pacífico, vem a lembrança do senhor Benedito Pacífico
contando como fazia na época de adolescente para estudar. Dizia que morava no
sítio Batatal que fica à margem direita do riacho João Gomes e vinha estudar no
centro da cidade de Santana do Ipanema. Como a estrada era longa, ele e Romildo
cortavam caminho, justamente por uma antiga trilha bicentenária, a da Igrejinha
das Tocaias. Desciam a ribanceira em direção ao riacho, atravessavam o João
Gomes seco e entravam pela trilha que saía no Bairro Floresta. Quando não saiam
juntos, quem chegasse primeiro numa bifurcação, deixava um sinal que já havia
passado para a escola. Seu Biu, não me falava de assombrações ao passar pela
cruz de beira de estrada ou se já era transformada em igrejinha.
Há muitos relatos sobre
assombrações no lugar, inclusive registradas por saudoso escritor da terra da
família Monteiro. Terno de zabumba invisível tocando em pleno meio-dia, botou
muita gente para correr.
Conheci de longe
Romildo Pacífico trabalhando na padaria do senhor Álvaro Granja, defronte a
escolinha da Professora Helena Oliveira, na Ponte do Padre, onde fiz Admissão
ao Ginásio. A conversa sobre ele, na época, era que o rapaz gostava muito de
estudar e na padaria, ficava dividido entre o livro e o cliente. Nunca tive
maior aproximação até porque ele era adulto e eu ainda criança. Sua trajetória na
vida é muito conhecida do povo santanense. Infelizmente a pandemia não escolhe
qualidade.
Nunca ouvi falar no
sítio Alto Bonito, onde ele morou, mas com certeza era vizinho ao Batatal do
seu primo Benedito Pacífico. Certa feita o Biu convidou-me para conhecer o seu
lugar de nascimento. Fomos a pé pela mesma trilha da Igrejinha das Tocaias por
onde suas pernas tanto caminharam. A casa no sítio estava fechada, precisando
de reparos. Lembro-me da beleza do lugar e de um imbuzeiro em que Seu Biu
colhia imbus e matava a saudade da zona rural. Quanto ao irmão de Romildo,
Benildo Pacífico, estudamos juntos na 50 série do Ginásio Santana.
Como era difícil estudar na cidade morando no sítio!
Existem muitas estradas
boas e confortáveis, porém, continuamos – simbolicamente – em nossas vidas,
usando veredas e mais veredas tais quais a dos primos Romildo e Benedito.
ROMILDO PACÍFICO (FOTO:
REDES SOCIAIS).
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