segunda-feira, 12 de abril de 2021

 

SER OU NÃO SER

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.510

 

Os cangaceiros usavam espinhos de mandacaru para palitar os dentes. As indústrias não fabricam palitos inspiradas nas cactáceas sertanejas. Entretanto, algum tipo de cola branca tem a ver com o aveloz ou labirinto como se chamavam no semiárido. Aproximadamente na década de 60, o sertão nordestino surgiu com essa planta para ser colocada junto as cercas de arame. A praga infestou o sertão, tanto que o transeunte da estrada sertanejas não avistavam mais as roças, as paisagens dentro das fazendas, todas rodeadas de labirinto. A planta crescia até mais de três metros de altura deixando as estradas como grandes túneis porque eram ladeadas pela planta.  O labirinto produz um leite pegajoso que bateu no olho, cega.  O labirinto (Euphorbia tirucalli) é um arbusto com mais de 40 denominações.

Para fazer as podas necessárias, os raros homens que se prestavam a fazer esse tipo de serviço, usavam máscaras de metal que cobriam completamente o rosto, deixando vidros no lugar dos olhos. Vez em quando se ouvia dizer que Fulano ou Beltrano teriam ficado cegos com leite de aveloz. Eu achava essa praga um absurdo. Algumas pessoas usavam o leite pingando nas verrugas como remédios de cura. Porém, nunca testemunhei a eficácia. Pensei que aquilo poderia ser aproveitada como cola. Décadas e décadas depois, vim a saber que indústrias estavam usando justamente o leite de aveloz como ingrediente nos produtos de colagens. Fui profeta realizado. Depois da década do aveloz, os matutos começaram a se livrar daquela planta e as estradas foram ficando limpa de um lado e do outro e aí já podíamos contemplar as fazendas cercadas somente pelas cercas de arame farpado. A praga acabou, mas revelando a surpresa do desmatamento que se escondia por trás do labirinto.

 No caso daquilo que era considerado erva daninha pelos criadores de gado, o mata-pasto, que se gastava fortunas para erradicá-los das pastagens. Imaginei na época se aquela erva não serviria para outra coisa. Descobri lá na frente que pesquisadores atestavam o valor nutritivo do mata-pasto e assim ele foi incorporado à silagem para ração animal nos tempos de estiagem. Vejam como a coisa muda! É quando o vilão passa a ser herói. E assim poderíamos citar vário produtos da nossa caatinga, antes desprezados, servindo de matéria-prima para as indústrias diversas, inclusive a farmacêutica, mas cultivada e sem desmatamento

Voltemos ao passado dos grandes filósofos: “ser ou não ser, eis a questão”

MATA-PASTO (FOTO: WIKIPÉDIA)

 


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