PADRE CIRILO, MAJOR E SACRISTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.503
Em Santana do Ipanema,
após as procissões de Semana Santa, as imagens que arrastavam multidões pelas
ruas e avenidas, eram retiradas de cena e guardadas superficialmente no Salão
Paroquial. Ali no salão contíguo à Matriz, ficavam por vários dias até que eram
levadas para lugares definitivos. O preto velho, vulgo Major, maior sineiro de
todos os tempos da Matriz de Senhora Santana, tomava conta das imagens, pois
também era uma das pessoas zeladoras da igreja. O sacristão Jaime, por ser de
baixa estatura, também era chamado de Jaiminho, ajudava no recolhimento das
imagens junto ao Major. Aliás, o sacristão Jaime preenchia toda a trajetória do
padre Luís Cirilo Silva. Quando o padre e o sacristão chegavam ao povoado
Pedrão, em Olho d’Água das Flores, para celebrações de missa, casamentos e
batizados, lá estava eu na casa dos meus tios Manoel Anastácio e Delídia, para
hospedá-los e providenciar todas as mordomias possíveis. Ambos chegavam a
cavalo e eu ficava boquiaberto vendo ali a quatro léguas (24 Km) da minha
cidade, o nosso pároco e o sacristão.
Mas retornando à
Matriz, quando a igreja estava vazia ou quase, porém aberta, eu aproveitava
para percorrê-la com a complacência do bondoso zelador Major. Fazia uma
incursão pelo salão paroquial, entrando por trás ou pela porta lateral que se
comunicava com a nave. Jaime era mais ríspido, todavia, o Major – em avançada
idade, já – era doce, calado, tolerante e paciente com as crianças como eu.
Nunca esqueci do impacto dentro do silencioso salão quando me deparei com a
imagem do Senhor Morto e Nossa Senhora, ainda no andor. Pareciam vivos e, como
foi uma visão inesperada, senti todo o peso da surpresa e uma atmosfera
espiritual muito forte, tanto que abandonei o salão imediatamente.
E é assim que nesse
tempo de pandemia sem sino, sem matraca, com a saudade do padre Cirilo, do
sacristão Jaime e do sineiro Major, vamos recordando momentos felizes do livro
dos tempos no meu sertão nordestino na religiosidade da minha querida Santana
do Ipanema.
A propósito, o padre
Luís Cirilo era natural da serra da Mandioca, município de Palmeira dos Índios,
ainda de descendência holandesa. O Major, era filho do povoado quilombola
Tapera do Jorge (Fui saber depois de adulto), município de Poço das
Trincheiras.
Reviver é viver. Hoje é
Sexta-Feira Santa. Silenciosa Sexta-Feira Santa!...
CENTRO COMERCIAL DE
SANTANA DO IPANEMA, VISTO DA IGREJA MATRIZ. (FOTO: ACERVO B. CHAGAS).
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