quarta-feira, 14 de abril de 2021

 

SEM MÉDICOS

Clerisvaldo B, Chagas, 15 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.512

 



Você já ouviu falar em Arnica, Mastruz, óleo de Copaíba e Terebentina? Quando não havia médicos no sertão de Alagoas, esses nomes acima estavam sempre presentes no conhecimento popular. Quando as pessoas adoeciam entravam em ação as rezas e os remédios do mato, os mesmos das tradições indígenas e dos repasses pelos mais velhos.  Em casos mais complicados quem tinha condições viajava a Palmeira dos Índios, no agreste, mais perto da capital ou mesmo para Garanhuns, Pernambuco, conhecido como lugar de bons profissionais da medicina. Afora as orações e os remédios da vovó, havia ainda as garrafadas, ervas e raízes de vários tipos, dentro de uma garrafa, preparada pelo raizeiro, benzedor ou garrafeiro, que tanto vendia o seu produto curativo nas feiras livres quanto aguardavam específicas encomendas.

As parteiras foram essenciais nos campos e nas cidades. Muitas delas ficaram famosas porque nunca perderam uma só criança. A parteira também possui as suas orações particulares. No campo era praxe o curador de cobras. Eram curados até cercados onde as cobras que havia se retiravam e as de fora não entravam naquela propriedade. Da mesma maneira que havia ervas medicinais para os humanos, a prática sertaneja também curava todos os tipos de animais: galinha, cavalo, vaca, carneiro, bode... Pois sempre havia alguém com algum conhecimento sobre o tema, uns superficialmente, outros, profundos conhecedores dos efeitos transformadores da flora.

Em Santana do Ipanema, o Dr. Arsênio Moreira, foi o primeiro médico de fora. Já trabalhava para o Batalhão de Polícia de combate aos cangaceiros e também ficou atuando em sua própria residência. Daí em diante muita coisa mudou no sertão. Foi o doutor Arsênio quem examinou o frasco de veneno que Lampião carregava. Isso após a hecatombe de Angicos. Arsênio chegou a morar no edifício onde hoje funciona o Museu Darras Noya. O segundo médico a clinicar em Santana, foi o Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo, filho da terra, vindo da zona rural, trazido pela família que fora importunada pelos sequazes de Virgulino Ferreira, o Lampião. Clodolfo atendeu muita gente no campo e atuou em cursos para parteiras leigas.

Já havia as chamadas boticas. Com as chegadas de médicos, também foram implantadas farmácias e chegando medicamentos modernos.

O padre Cícero do Juazeiro era profundo conhecedor da flora sertaneja. Gostava de receitar mastruz com leite para pessoas com problemas de pulmões. Nós sertanejos confiamos na medicina, mas dificilmente você encontrará uma residência que não guarde no armário um chazinho qualquer, tirado da mata catingueira ou dos terrenos baldios de periferia.

ARNICA (crédito: Pinterest).


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