SEM MÉDICOS
Clerisvaldo B, Chagas, 15 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.512
Você já ouviu falar em
Arnica, Mastruz, óleo de Copaíba e Terebentina? Quando não havia médicos no
sertão de Alagoas, esses nomes acima estavam sempre presentes no conhecimento
popular. Quando as pessoas adoeciam entravam em ação as rezas e os remédios do
mato, os mesmos das tradições indígenas e dos repasses pelos mais velhos. Em casos mais complicados quem tinha
condições viajava a Palmeira dos Índios, no agreste, mais perto da capital ou
mesmo para Garanhuns, Pernambuco, conhecido como lugar de bons profissionais da
medicina. Afora as orações e os remédios da vovó, havia ainda as garrafadas,
ervas e raízes de vários tipos, dentro de uma garrafa, preparada pelo raizeiro,
benzedor ou garrafeiro, que tanto vendia o seu produto curativo nas feiras
livres quanto aguardavam específicas encomendas.
As parteiras foram
essenciais nos campos e nas cidades. Muitas delas ficaram famosas porque nunca
perderam uma só criança. A parteira também possui as suas orações particulares.
No campo era praxe o curador de cobras. Eram curados até cercados onde as
cobras que havia se retiravam e as de fora não entravam naquela propriedade. Da
mesma maneira que havia ervas medicinais para os humanos, a prática sertaneja
também curava todos os tipos de animais: galinha, cavalo, vaca, carneiro,
bode... Pois sempre havia alguém com algum conhecimento sobre o tema, uns
superficialmente, outros, profundos conhecedores dos efeitos transformadores da
flora.
Em Santana do Ipanema,
o Dr. Arsênio Moreira, foi o primeiro médico de fora. Já trabalhava para o
Batalhão de Polícia de combate aos cangaceiros e também ficou atuando em sua
própria residência. Daí em diante muita coisa mudou no sertão. Foi o doutor
Arsênio quem examinou o frasco de veneno que Lampião carregava. Isso após a
hecatombe de Angicos. Arsênio chegou a morar no edifício onde hoje funciona o
Museu Darras Noya. O segundo médico a clinicar em Santana, foi o Dr. Clodolfo
Rodrigues de Melo, filho da terra, vindo da zona rural, trazido pela família
que fora importunada pelos sequazes de Virgulino Ferreira, o Lampião. Clodolfo
atendeu muita gente no campo e atuou em cursos para parteiras leigas.
Já havia as chamadas
boticas. Com as chegadas de médicos, também foram implantadas farmácias e
chegando medicamentos modernos.
O padre Cícero do
Juazeiro era profundo conhecedor da flora sertaneja. Gostava de receitar
mastruz com leite para pessoas com problemas de pulmões. Nós sertanejos
confiamos na medicina, mas dificilmente você encontrará uma residência que não
guarde no armário um chazinho qualquer, tirado da mata catingueira ou dos
terrenos baldios de periferia.
ARNICA (crédito: Pinterest).
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