TOCAIAS:
O ECO DO PASSADO
Clerisvaldo
B. Chagas, 7 de abril de 2021
Havia na região
santanense de Bebedouro/Maniçoba, uma família de artesãos em madeira. Ela
trabalhava com réplicas das partes do corpo humano para pessoas católicas que
precisavam pagar dívidas. As peças que mais víamos eram: cabeça, mãos e pés,
denominadas ex-votos. Eu identificava todos os membros da família, mas havia um
galego que parecia que as cabeças de pau, eram baseadas na sua própria figura.
Peças rústicas, feias, mas com certeza bem recebidas pelos donos das
encomendas. Não sei dizer se aquela era a única família que confeccionava
ex-votos, em Santana. Ao visitar certa feita a Igrejinha das Tocaias, nos
confins do Bairro Floresta, vi uma verdadeira montanha de peças deixadas pelos
devotos e juntadas ao pé da cruz do pátio. Como era grande a fé dos que faziam
promessas na Igrejinha das Tocaias, com o santo estrangeiro Seu Manoel da
Paciência que representava Jesus!
Quem vê o cantor e
milionário Amado Batista, com todo respeito, vê a cópia das cabeças feitas
pelos artesãos da Maniçoba. Sem ter onde colocar tantas peças, zeladores da
Igrejinha tiveram que se desfazer de muitas e guardar um pouco das mais
conservadas. Estou falando isso porque iremos fazer um movimento entre
escritores e sociedade para darmos a assistência devida à igrejinha que precisa
de reforma e muito mais. Há um ano estive procurando um artesão em madeira e
ninguém soube informar de nenhum. Acho que artífice para essa finalidade de
seguidores católicos, não existe mais no município santanense.
Não sei se o assunto
interessa ao amigo e amiga, mas é fremente que resgatemos e conservemos a
Igrejinha das Tocaias, cuja história já foi contada em cordel, por nós. Único
resgate desta saga desconhecida pelo nosso povo. Uma vez revelada sua história,
falta agora restaurá-la e até propor um tombamento uma vez que o humilde templo
não pertence a ninguém. Quanto aos que gostam de fazer promessa, sobre membros
do corpo, estamos sem artistas, pelo menos na cidade, restando recorrer a
artesãos em outros tipos de material como gesso, por exemplo.
A propósito, nosso
singelo subúrbio Maniçoba/Bebedouro, sempre foi rico no artesanato em couro de
bode, em palha Ouricuri e em madeira e renda.
Seria bom um
levantamento pela municipalidade para registro e benefício dos artesãos e
artesãs remanescentes.
IGREJINHA DAS TOCAIAS
(FOTO: B. CHAGAS).
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