quinta-feira, 14 de outubro de 2021

 

O CRISTO

Clerisvaldo B. Chagas, 13/14 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.597




É melhor um Cristo feio do que Cristo nenhum. Há 90 anos, com a implantação do Cristo Redentor do Rio de Janeiro, a inspiração percorreu todos os municípios do Brasil. Muitos procuraram imitar o marco maior colocando imagens nos montes das suas respectivas cidades. Quando não dava, apenas um cruzeiro de madeira já era o suficiente. Essa moda de cunho cristão nunca deixou de crescer. Algumas imagens do Mestre foram ficando famosas além do estado de origem, outras ficaram apenas dentro do seu território e outras, ainda, não conseguiram fama além do próprio município. Muitas são bem feitas, porém, outras, valem apenas pela boa vontade de escultores esforçados e pela fé dos visitantes. São estátuas (imagens) erguidas pelo poder público ou por algum dedicado cristão querendo servir.

Em Alagoas mesmo, nas bandas do Sertão, pelo menos conhecemos três dessas imagens que passam temporadas em evidência, temporadas de esquecimento. Ficam sujeitas à intempéries e aos vândalos que perambulam por todos os lugares. As de maiores destaques são a de Palmeira dos Índios, no Agreste e a de de Pão de Açúcar na região do São Francisco. Em Palmeira dos Índios a imagem estar situada numa das serras que circundam a cidade de nome Goiti, daí a denominação popular: “Cristo do Goiti”, isto é, da serra do Goiti. Em Pão de Açúcar, a estátua fica num pequeno monte à beira do rio São Francisco, na periferia da cidade. O “Cristo de Pão de Açúcar”, o “Morro do Cristo”. Dizem que o local de banho é favorável aos ataques de Piranhas aos banhistas. A imagem está voltada em direção a jusante, isto é, à foz do “Velho Chico”.

Mas Santana do Ipanema também possui a imagem do Cristo de braços abertos. Fica no serrote do Gonçalinho, também chamado de serra do Cristo e serra das Micro Ondas, uma das elevações mirantes da cidade. Um pouco abaixo do topo, situado sobre uma pedra fixa, a imagem deve ter sido ali implantada na década de trinta. Passaram-se muitos e muitos anos no anonimato, até por não ser tão grande assim, foi redescoberta por um prefeito que a iluminou, chamando atenção para a obra de autor desconhecido. De qualquer maneira é um convite explícito para se conhecer o serrote que vai tendo as suas faldas a barlavento urbanizadas por um bairro novo chamado Santo Antônio. A estátua completa seus 90 anos igual ao Cristo Redentor.

Vamos subir o serrote?!!!

SERROTE DO CRISTO EM SANTANA DO IPANEMA (FOTO: PREFEITURA).

 

 

 


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terça-feira, 12 de outubro de 2021

 

DEGUSTANDO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 13/15 de outubro

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.596



Muitas iguarias tradicionais do Sertão, desapareceram definitivamente, outras retornaram aos poucos para matar a saudade dos apreciadores do que é bom. Culinária sertaneja, rica em comidas de origens africanas, indígenas, juntamente com a portuguesa, são delícias nordestinas. A fuba, chamada por nós sertanejos, é a massa do milho para fazer o cuscuz. Já o fubá é o milho triturado, em pó que se come com açúcar. Desapareceu da nossa cidade o cidadão que vendia fubá numa panela enorme pelas ruas da cidade. Panela à cabeça, calado, mas os clientes já sabiam. Onde está o fubá? Precisamos de fubá. O xerém também foi desaparecendo das feiras, das ruas, e só se encontra em pacotes industrializados. O xerém da roça era feito moído em pedra-mó.

Mas ressurgiu nas ruas da cidade, o vendedor de mungunzá. Carroça de mão e utensílios acoplados haja a gritar: Ui-ui! Ui-ui! E o povo cerca o carrinho a pedir um copo de chá-de-burro, com também é chamado por aqui o mungunzá. Mas, na feira de Santana também está de volta essa delícia africana. Uma senhora da zona rural, especialista em tapioca gigante, tem ao lado da sua banca, uma filha que está iniciando a venda do mungunzá. Ela pede aos clientes que classifiquem a iguaria porque está fazendo testes. Mas os seus testes já estão sendo aprovados com nota máxima e vamos viciando no chá-de-burro da morena sertaneja. Quer dizer, seu café está garantido aos sábados com a tapioca e o mungunzá de mãos ruralistas.

A propósito, o mungunzá, além do chamado milho branco desolhado, leva ainda leite, leite de coco, leite condensado, cravo e canela em pau. Ah, feira de Santana! Se queremos implementar mesmo o turismo, precisamos lembrar também da nossa culinária esquecida, incentivá-la para trazermos de volta definitiva as guloseimas que deliciam o turista e a nós mesmos. Essas tradicionais guloseimas estão sempre presentes no povoado Pé-Leve, além de Arapiraca, na própria capital do fumo que preserva a tradição e na rodovia da Barra Nova, em Marechal Deodoro.

Vamos passear no Sertão, gente!

Boca cheia e pança estourando, Ave!

MUNGUNZÁ (IMAGEM: SIMEONI/GLOBO)


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