terça-feira, 19 de outubro de 2021

 

SANTANA HISTÓRICA

Clerisvaldo B. Chagas, 20/21 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.598




Foi em 1938, mesmo ano em que mataram Lampião, que o prefeito Joaquim Ferreira, originário de outro estado, construiu o Grupo Escolar Padre Francisco Correia, no Bairro Monumento, em Santana do Ipanema. A obra foi em conjunto com o governo estadual. Surgia assim em Santana do Ipanema uma escola oficial de grande porte. Havia certa resistência de mão de obra para o Magistério, sobretudo de senhorinhas de Maceió, por causa da fama de barbaridades praticadas no Sertão. Mesmo assim o grande passo na Educação da terra fora realizado e o quadro completo da unidade se formou. Professoras de Santana do Ipanema e de outros lugares, preencheram todos os cargos para o início de um futuro de prosperidade no semiárido.

Com esse grupo sendo a grande atração estudantil do Médio Sertão, o sucesso da educação santanense esteve sempre em evidência numa fase chamada “Época de Ouro”. A minha mãe, Professora Helena Braga, não estava presente, não fez parte da turma de inauguração do Grupo. Proveniente de Viçosa, chegou de Maceió para se engajar na luta em 1944. Aqui aconteceu o seu casamento, sua aposentadoria e o seu falecimento. Um novo brilho veio a acontecer na Educação da cidade quando foi inaugurado o Ginásio Santana, em torno de 12 anos após. Iniciava assim uma nova fase educacional da quinta à oitava série numa escola da Rede Cenecista de Alagoas, uma das primeiras do interior.

Não está com tanto tempo assim, o antigo grupo ganhou uma reforma e ficou mais belo ainda. Sua arquitetura e seu histórico fazem parte do Patrimônio Cultural e Arquitetônico de Santana do Ipanema, justamente ao lado do Tênis Clube Santanense, do Ginásio Santana e da Igrejinha de Nossa Senhora da Assunção. É o grande quarteto que enobrece à cidade. Quem passa pela sua calçada como simples transeunte jamais imagina que dentro daquele enorme e bem conservado muro tem tanta história de progresso e amor em seus anais. Motivo de honra em ter estudado naquele casarão que até o presente momento envaidece Santana.

(FOTO: AUTOR DESCONHECIDO).

 


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domingo, 17 de outubro de 2021

 

CARNE DE SOL

Clerisvaldo B. Chagas, 18/19 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.597



A faca enorme e afiada cortava carene como se fosse manteiga. Salão com dois ou três cochos grandes, era cenário da salgadeira do senhor conhecido como Otávio Magro. As mantas de carne repousavam nos cochos dentro da salmoura. Algumas peças ficavam penduradas na parede em ganchos de ferro como amostras daquela delícia. Foi a única salgadeira de fabricar carne de sol, em Santana do Ipanema que eu conheci. Ficava a salgadeira na Rua Antônio Tavares, esquina do beco que fazia ligação com a rua de baixo, Rua de Zé Quirino, hoje prof. Enéas. Era ali, defronte a casa do sargento Leôncio, do outro lado da via que se comprava carne de sol.  O povo jogava lixo por trás da salgadeira e que descia até a rua de baixo, malgrado à fábrica de carne de sol, de um lado, e uma fábrica de vinagre do outro.

Neste momento em que me delicio com um naco de carne de sol, carne preta, como diz o meu netinho Davi, fã dessa iguaria, à semelhança do bisavô Manezinho Chagas. A pedido do meu pai, anos 60, lá ia eu até à salgadeira do senhor Otávio comprar carne que era enrolada à mão e embrulhada em papel comum. Em casa a carne iria para o varal, secar ao Sol, enquanto eu a vigiava com um cabo de vassoura contra ataques de possíveis urubus. Hoje não existe mais o beco. Foi transformado em residência, embora tenha sido formada uma rua de ligação entre ambas, bem vizinho. Após o fechamento da salgadeira, não conheci até hoje nova fabriqueta em nossa cidade.

Marchantes e comerciantes alegam muito trabalho e demora na venda pelo alto custo do produto bem feito. Ensinam, porém, a você fazer sua própria carne de sol, sem levar ao Sol e usando geladeira. É fácil e fica muito gostosa, mas não é a original fabricada pelos nossos antepassados. Mais uma relíquia sertaneja que poderia gerar emprego e exportar o produto como acontece no Pernambuco, em São Caetano. Você poderá encontrar a carne de sol num restaurante à Rua Delmiro Gouveia, deliciosa, mas não espere que seja na fórmula original com o Sol sertanejo. Assim vamos matando a vontade com o produto feito em casa com quem aprendeu com o famoso marchante e fazendeiro, saudoso Eufrásio Militão.

Na verdade, era muito melhor quando carne de sol se escrevia com hífen. Você até pode chamar de carne de geladeira.

Sertão em festa!

PRATO DE CARNE DE SOL (IMAGEM DE AUTOR NÃO IDENTIFICADO).


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